Acesso à água na Grande São Paulo é desigual entre ricos e pobres
Para pesquisador da USP, crise no abastecimento na região metropolitana é um problema ecológico e social
Por Cida de Oliveira, Rede Brasil Atual
Represa do Guarapiranga é uma das fornecedoras de água para a região metropolitana de São Paulo (Foto: Hamilton Breternitz Furtado/ Wikipedia)
São Paulo – A responsabilidade pela crise no abastecimento de água na região metropolitana de São Paulo é das classes mais favorecidas, moradoras dos bairros nobres da capital paulista. E não os moradores da região de mananciais da represa Guarapiranga. Esta é uma das conclusões da pesquisa do geógrafo Frederico Bertolotti, da Universidade de São Paulo.
Ao levantar dados oficiais de 2006 em órgãos como a Sabesp, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a ONG Instituto Socioambiental e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Bertolotti constatou que as causas principais da ameaça de desabastecimento são o consumo desigual entre os bairros, a carência de saneamento básico nas áreas de mananciais e o desperdício de água dentro do próprio sistema operado pela Sabesp.
“Regiões nobres como Pinheiros e Perdizes, por exemplo, consomem até cinco vezes mais água que a periferia. Aliás, os moradores das regiões próximas à Guarapiranga sofrem com falta de água. É irônico que quem mora perto da fonte de água tenha dificuldade para consumi-la”, afirma.
Segundo ele, o padrão de consumo é qualitativamente diferente. Em bairros mais ricos a água é utilizada em fontes e piscinas, e as residências têm número maior de banheiros. Sem contar os fins essenciais, como preparação de alimentos, higiene pessoal, da casa e das roupas. Já os mais pobres usam a água apenas para esses fins.
Na região da Guarapiranga, conforme a pesquisa, apenas 54% das residências têm o esgoto coletado. Desse total, cerca de 80% retorna à represa sem tratamento, devido à falta de sistemas de escoamento e de tratamento. Em toda a metrópole, 82% das moradias têm coleta de esgoto, e pouco mais de 50% recebe tratamento e o restante acaba despejado em diferentes cursos d’água espalhados pela metrópole. “Isso mostra que a Sabesp não tem infraestrutura suficiente para tratar todo o esgoto coletado”, aponta Bertolotti.
Para completar, o desperdício de água dentro do próprio sistema operado pela Sabesp é outro agravante. São perdidos 20,8 metros cúbicos de água por segundo, quando a represa produz 14,8 metros cúbicos e o consumo total da metrópole é de 67 metros cúbicos por segundo. “Perde-se mais água do que a Guarapiranga produz. As perdas são da ordem de 31%, segundo dados da própria empresa, e ocorrem por vazamentos e ligações irregulares”, diz o geógrafo.
Segundo ele, as represas Billings e Guarapiranga não foram criadas para o abastecimento de água, mas sim para a geração de energia elétrica, movimentando as turbinas de usina localizada em Cubatão. No início do século 20, sanitaristas defendiam que as represas deveriam abastecer a região, pois a cidade crescia rapidamente e já enfrentava problemas de escassez .
Mas o setor hidroenergético, representado pela Light, empresa de capital internacional, queria o seu uso para geração de energia. Prevaleceu o desejo da empresa, que não tratava o esgoto porque, se a água estivesse suja, não seria utilizada para abastecimento.
Para pesquisador da USP, crise no abastecimento na região metropolitana é um problema ecológico e social
Por Cida de Oliveira, Rede Brasil Atual
Represa do Guarapiranga é uma das fornecedoras de água para a região metropolitana de São Paulo (Foto: Hamilton Breternitz Furtado/ Wikipedia)
São Paulo – A responsabilidade pela crise no abastecimento de água na região metropolitana de São Paulo é das classes mais favorecidas, moradoras dos bairros nobres da capital paulista. E não os moradores da região de mananciais da represa Guarapiranga. Esta é uma das conclusões da pesquisa do geógrafo Frederico Bertolotti, da Universidade de São Paulo.
Ao levantar dados oficiais de 2006 em órgãos como a Sabesp, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a ONG Instituto Socioambiental e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Bertolotti constatou que as causas principais da ameaça de desabastecimento são o consumo desigual entre os bairros, a carência de saneamento básico nas áreas de mananciais e o desperdício de água dentro do próprio sistema operado pela Sabesp.
“Regiões nobres como Pinheiros e Perdizes, por exemplo, consomem até cinco vezes mais água que a periferia. Aliás, os moradores das regiões próximas à Guarapiranga sofrem com falta de água. É irônico que quem mora perto da fonte de água tenha dificuldade para consumi-la”, afirma.
Segundo ele, o padrão de consumo é qualitativamente diferente. Em bairros mais ricos a água é utilizada em fontes e piscinas, e as residências têm número maior de banheiros. Sem contar os fins essenciais, como preparação de alimentos, higiene pessoal, da casa e das roupas. Já os mais pobres usam a água apenas para esses fins.
Na região da Guarapiranga, conforme a pesquisa, apenas 54% das residências têm o esgoto coletado. Desse total, cerca de 80% retorna à represa sem tratamento, devido à falta de sistemas de escoamento e de tratamento. Em toda a metrópole, 82% das moradias têm coleta de esgoto, e pouco mais de 50% recebe tratamento e o restante acaba despejado em diferentes cursos d’água espalhados pela metrópole. “Isso mostra que a Sabesp não tem infraestrutura suficiente para tratar todo o esgoto coletado”, aponta Bertolotti.
Para completar, o desperdício de água dentro do próprio sistema operado pela Sabesp é outro agravante. São perdidos 20,8 metros cúbicos de água por segundo, quando a represa produz 14,8 metros cúbicos e o consumo total da metrópole é de 67 metros cúbicos por segundo. “Perde-se mais água do que a Guarapiranga produz. As perdas são da ordem de 31%, segundo dados da própria empresa, e ocorrem por vazamentos e ligações irregulares”, diz o geógrafo.
Segundo ele, as represas Billings e Guarapiranga não foram criadas para o abastecimento de água, mas sim para a geração de energia elétrica, movimentando as turbinas de usina localizada em Cubatão. No início do século 20, sanitaristas defendiam que as represas deveriam abastecer a região, pois a cidade crescia rapidamente e já enfrentava problemas de escassez .
Mas o setor hidroenergético, representado pela Light, empresa de capital internacional, queria o seu uso para geração de energia. Prevaleceu o desejo da empresa, que não tratava o esgoto porque, se a água estivesse suja, não seria utilizada para abastecimento.
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