Israel ataca barcos que tentavam furar bloqueio a Gaza
Pelo menos 16 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas no ataque israelense à "Frota da Liberdade"
A Marinha de Israel atacou nesta segunda-feira uma frota de embarcações com ativistas pró-palestinos que tentavam furar o bloqueio à Faixa de Gaza e entregar suprimentos à região.
Segundo a TV israelense, até 16 pessoas teriam morrido. Em um comunicado, a Marinha de Israel disse ter respondido a disparos que partiram das embarcações durante a abordagem.
Em entrevista à rádio do Exército, o ministro da Indústria e Comércio de Israel, Binyamin Ben-Eliezer, disse lamentar as mortes.
A exata localização das embarcações é incerta. Israel teria advertido as embarcações para que não invadissem suas águas territoriais. Mas, segundo os ativistas, os barcos estavam em águas internacionais, a mais de 60 quilômetros da costa.
Suprimentos
Os barcos, organizados pela ONG Free Gaza, levavam 750 ativistas e cerca de 10 mil toneladas de suprimentos para a Faixa de Gaza.
Foto: APImagens amadoras divulgadas por grupo que levava ajuda humanitária até a Faixa de Gaza mostram soldados israelenses a bordo de um dos barcos
Imagens da TV turca feitas a bordo do barco turco que liderava a frota mostram soldados israelenses lutando para controlar os passageiros. As imagens mostram algumas pessoas, aparentemente feridas, deitadas no chão. O som de tiros pode ser ouvido.
A TV árabe Al-Jazeera relatou, da mesma embarcação, que as forças da Marinha israelense haviam disparado e abordado o barco, ferindo o capitão.
A transmissão das imagens pela Al-Jazeera foi encerrada com uma voz gritando em hebraico: “Todo mundo cale a boca!”.
"Provocação"
A frota de seis embarcações havia deixado as águas internacionais próximo à costa do Chipre no domingo e pretendia chegar a Gaza nesta segunda-feira.
Israel havia dito que bloquearia a passagem dos barcos e classificou a campanha de “uma provocação com o intuito de deslegitimar Israel”.
Israel decretou um bloqueio quase total à entrada de mercadorias na Faixa de Gaza desde que o grupo islâmico Hamas tomou à força o controle da região, em junho de 2007.
O Hamas é acusado pelos disparos de milhares de mísseis contra o território israelense na última década. Israel diz que permite a entrada de 15 mil toneladas de suprimentos de ajuda humanitária a Gaza a cada semana. Mas a Organização das Nações Unidas diz que isso é menos de um quarto do necessário.
O Irã concordou em enviar urânio para ser enriquecido no exterior, como parte de um acordo negociado em Teerã entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan.
O porta-voz do Ministério do Exterior do país, Ramin Mehmanparast, disse que o país vai enviar 1.200 kg de urânio de baixo enriquecimento (3,5%) para a Turquia em troca de combustível para um reator nuclear a ser usado em pesquisas médicas em Teerã.
O entendimento anunciado nesta segunda-feira e assinado em frente a jornalistas em Teerã tem como base a proposta da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, órgão da ONU), do final do ano passado, que previa o enriquecimento do urânio iraniano em outro país em níveis que possibilitariam sua utilização para uso civil, não militar.
Analistas acreditam que a adoção de uma proposta que segue as linhas do que foi negociado na ONU poderia esfriar os ânimos dentro do Conselho de Segurança da organização e evitar uma nova rodada de sanções, como defendem os Estados Unidos.
Entretanto, o correspondente da BBC em Istambul, Jonathan Head, disse que mesmo entre as autoridades do Ministério do Exterior turco existe um ceticismo pela possibilidade de que o Irã esteja acenando com boa vontade, mas pouco disposto a cooperar na questão nuclear.
Poucos minutos após o anúncio do acordo, Israel criticou o Irã, afirmando que Teerã está "manipulando" o Brasil e a Turquia.
Os dois países, potências não-nucleares e membros não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU, querem evitar as sanções.
Alguns integrantes do Conselho – principalmente os Estados Unidos - desconfiam das intenções do programa nuclear iraniano.
O Irã afirma que ele tem fins pacíficos, e que o país não pretende desenvolver armas nucleares.
Suspense
Os termos do acordo serão submetidos à AIEA, anunciou o Irã. Se for aceito, os 1.200 quilos de urânio iraniano com baixo enriquecimento ficarão guardado na Turquia sob vigilância turca e iraniana.
Em troca, após um ano, o Irã tem direito de receber 120 quilos de material enriquecido a 20%. Rússia e França já haviam se oferecido para fornecer esse urânio.
A expectativa era de que um novo entendimento com os iranianos fosse anunciado ainda no domingo, mas o assunto não foi comentado nem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e tampouco pelo presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, durante o encontro bilateral.
Inicialmente, o premiê Erdogan era esperado para um encontro trilateral com os líderes brasileiros e iraniano, mas acabou desistindo da viagem sob o argumento de que a o Irã não estaria "comprometido" com o acordo proposto.
No fim, Erdogan acabou viajando a Teerã, onde chegou nas primeiras horas da segunda-feira.
O suspense indica que a diplomacia para chegar a um acordo foi "complexa", segundo as palavras do próprio ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em entrevista ao jornal Washington Post.
Na sexta-feira, em encontro com Lula em Moscou - primeira parada desta viagem de Lula ao exterior -, o presidente russo, Dmitri Medvedev, disse que a proposta do Brasil e da Turquia seria a última chance do Irã de evitar as sanções da ONU.
Gestos de boa vontade
No domingo, Lula se encontrou com o líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, e com o presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad.
A agência oficial iraniana IRNA noticiou que Khamenei elogiou o Brasil. Segundo a agência de notícias AFP, Ahmadinejad também fez elogios ao Brasil. Lula e Ahmadinejad discursaram em um evento para empresários dos dois países, mas nenhum dos dois mencionou a questão nuclear.
Ainda no domingo, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, divulgou uma nota em que agradece aos governos de Brasil, Síria e Senegal por seus esforços em prol da libertação da professora francesa Clotilde Reiss, que estava presa em Teerã desde o ano passado.
Reiss havia sido condenada em julho do ano passado por dez anos de prisão por espionagem e por ter enviado fotografias por e-mail mostrando protestos contra o governo iraniano.
O anúncio da libertação foi feito neste sábado, dia da chegada do presidente Lula a Teerã.
Segundo fontes da diplomacia brasileira, o presidente Ahmadinejad teria dito a Lula que a libertação da professora francesa foi um "presente" do governo iraniano ao presidente brasileiro.
Nesta segunda-feira, o presidente brasileiro participa de uma reunião do G15, um grupo de cooperação entre países em desenvolvimento não-alinhados. Além de Brasil e Irã, participam do G15 Argélia, Argentina, Chile, Egito, Índia, Indonésia, Jamaica, Malásia, México, Nigéria, Quênia, Senegal, Sri Lanka, Venezuela e Zimbábue.