domingo, 28 de fevereiro de 2010

SERRA LEVA O PSDB E SÃO PAULO DESFILADEIRO ABAIXO



Serra e o fim da era paulista na política

Luis Nassif

Por que José Serra vacila tanto em anunciar-se candidato?

Para quem acompanha a política paulista com olhos de observador e tem contatos com aliados atuais e ex-aliados de Serra, a razão é simples.

Seu cálculo político era o seguinte: se perde as eleições para presidente, acaba sua carreira política; se se lança candidato a governador, mas o PSDB consegue emplacar o candidato a presidente, perde o partido para o aliado. Em qualquer hipótese, iria para o aposentadoria ou para segundo plano. Para ele só interessava uma das seguintes alternativas: ele presidente ou; ele governador e alguém do PT presidente. Ou o PSDB dava certo com ele; ou que explodisse, sem ele.

Esta foi a lógica que (des)orientou sua (in)decisão e que levou o partido a esse abraço de afogado. A ideia era enrolar até a convenção, lá analisar o que lhe fosse melhor.

De lá para cá, muita água rolou. Agora, as alternativas são as seguintes:

1. O xeque que recebeu de Aécio Neves (anunciando a saída da disputa para candidato a presidente) demoliu a estratégia inicial de Serra. Agora, se desiste da presidência e sai candidato a governador, leva a pecha de medroso e de sujeito que sacrificou o partido em nome de seus interesses pessoais.

2. Se sai candidato a presidente, no dia seguinte o serrismo acaba.
O balanço que virá

O clima eleitoral de hoje, mais o poder remanescente de Serra, dificulta a avaliação isenta do seu governo. Esse quadro – que vou traçar agora – será de consenso no ano que vem, quando começar o balanço isento do seu governo, sem as paixões eleitorais e sem a obrigatoriedade da velha mídia de criar o seu campeão a fórceps. Aí se verá com mais clareza a falta de gestão, a ausência total do governador do dia-a-dia da administração (a não ser para inaugurações), a perda de controle sobre os esquemas de caixinha política.

Hoje em dia, a liderança de Serra sobre seu governo é próxima a zero. Ele mantém o partido unido pelo medo, não pelas ideias ou pela liderança.

Há mágoas profundas do covismo, mágoas dos aliados do DEM – pela maneira como deserdou Kassab -, afastamento daqueles que poderiam ser chamados de serristas históricos – um grupo de técnicos de alto nível que, quando sobreveio a inércia do período FHC-Malan, julgou que Serra poderia ser o receptador de ideias modernizantes.

Outro dia almocei com um grande empresário, aliado de primeira hora de Serra. Cauteloso, leal, não avançou em críticas contra Serra. Ouviu as minhas e ponderou uma explicação que vale para todos, políticos, homens de negócio e pensadores: “As ideias têm que levar em conta a mudança das circunstâncias e do país”. Serra foi moderno quando parlamentar porque, em um período de desastre fiscal focou seu trabalho na responsabilidade fiscal.

No governo paulista, não conseguiu levantar uma bandeira modernizadora sequer. Pior: não percebeu que os novos tempos exigiam um compromisso férreo com o bom estar do cidadão e a inclusão social. Mas continuou preso ao modelito do administrador frio e do sujeito que comprometeu o aparato regulatório do Estado com concessões descabidas a concessionárias.

O castigo veio a cavalo. A decisão e desviar todos os recursos para o Rodoanel provocou o segundo maior desastre coletivo da moderna história do país, produzido por erros de gestão: o alagamento de São Paulo devido à interrupção das obras de desassoreamento do rio Tietê. O primeiro foi o “apagão” do governo FHC.
O fim das ideias

O Serra que emergiu governador decepcionou aliados históricos. Mostrou-se ausente da administração estadual, sem escrúpulos quando tornou-se o principal alimentador do macartismo virulento da velha mídia – usando a Veja e a Folha – e dos barra-pesadas do Congresso. Quando abriu mão dos quadros técnicos, perdeu o pé das ideias. Havia meia dúzia de intelectuais que o abastecia com ideias modernizantes. Sem eles, sua única manifestação intelectual foi o artigo para a Folha criticando a posição do Brasil em relação ao Irã – repetindo argumentos do seu blogueiro.

É bobagem taxar o PSDB histórico de golpista. Na origem, o partido conseguiu aglutinar quadros técnicos de alto nível, de pensamento de centro-esquerda e legalistas por excelência. E uma classe média que também combateu a ditadura, mas avessa a radicalizações ideológicas.

Ao encampar o estilo Maluf – virulência ideológica (através de seus comandados na mídia), insensibilidade social, (falsa) imagem de administrador frio e insensível, ênfase apenas nas obras de grande visibilidade, desinteresse em relação a temas centrais, como educação e segurança – Serra destruiu a solidariedade partidária criada duramente por lideranças como Mário Covas, Franco Montoro e Sérgio Motta.

Quadros acadêmicos do PSDB, de alto nível, praticamente abandonaram o sonho de modernizar a política e ou voltaram para a Universidade ou para organizações civis que lhe abriram espaço.
O personalismo exacerbado

Principalmente, chamaram a atenção dois vícios seus, ambos frutos de um personalismo exacerbado – para o qual tantas e tantas vezes FHC tinha alertado.

O primeiro, a tendência de chamar a si todos os méritos, não admitir críticas e tratar todos subordinados com desprezo, inclusive proibindo a qualquer secretário sequer mostrar seu trabalho. Principalmente, o de exigir a cabeça de jornalistas que o criticavam.

O mal-estar na administração é geral. Em vez de um Estadista, passaram a ser comandados por um chefe de repartição que não admite o brilho de ninguém, nem lhes dá reconhecimento.

O segundo, a deslealdade. Duvido que exista no governo Serra qualquer estrela com luz própria que lhe deva lealdade. A estratégia política de FHC e Lula sempre foi a de agregar, aparar resistências, afagar o ego de aliados. A de Serra foi a do conflito maximizado não por posições políticas, mas pelo ego transtornado.

O uso do blogueiro terceirizado da Veja para ataques descabidos (pela virulência) contra Geraldo Alckmin, Chalita, Aécio, deixou marcas profundas no próprio partido.

Alckmin não lhe deve lealdade, assim como Aloizio Nunes – que está sendo rifado por Serra. Alberto Goldmann deve? Praticamente desapareceu sob o personalismo de Serra, assim como Guilherme Afif e Lair Krähenbühl – sujeito de tão bom nível que conseguiu produzir das poucas coisas decentes do malufismo e não se sujar.

No interior, há uma leva enorme de prefeitos esperando o último sopro de Serra para desvencilhar-se da presença incômoda do governador.

O que segura o serrismo, hoje em dia, é apenas o temor do espírito vingativo de Serra. E um grupo de pessoas que será varrida da vida pública com sua derrota por absolua falta de opção. Mas que chora amargamente a aposta na pessoa errada.

Aliás, se Aécio Neves foi esperto (e é), tratará de reasgatart esses quaros para o partido.

Saindo candidato a presidente e ficando claro que não terá chance de vitória, o PSDB paulista se bandeará na hora para o novo rei. Pelas possibilidades eleitorais, será Alckmin, político limitado, sem fôlego para inaugurar uma nova era. Por outro lado, o PT paulista também não logrou se renovar, abrir espaço para novos quadros, para novas propostas. Continua prisioneiro da polarização virulenta com o PSDB, sem ter conseguido desenvolver um discurso novo ou arregimentado novas alianças.

O resultado final será o fim da era paulista na política nacional, um modelo que se sustentou décadas graças ao movimento das diretas e à aliança com a velha mídia.

Acaba em um momento histórico, em que o desenvolvimento se interioriza e o monopólio da opinião começa a cair.

A história explica grande parte desse fim de período. Mas o desmonte teria sido menos traumático se conduzido por uma liderança menos deletéria que a de Serra.

DILMA CRESCE EM TODAS AS REGIÕES DO PAÍS




(clique na imagem para ampliar)


Em todas as regiões do Brasil, Dilma cresceu. No Nordeste ela lidera com grande diferença. Na região Norte e Centro-Oeste quase empata. No Sul e Sudeste, Serra continua na frente, mas com Serra em queda em Dima subindo. A diferença está caindo.

Fonte: Blog Os Amigos da Presidente Dilma
http://osamigosdapresidentedilma.blogspot.com/

sábado, 27 de fevereiro de 2010

DILMA EMPATA TECNICAMENTE COM SERRA


Pesquisa Datafolha aponta queda na diferença entre os pré-candidatos do PSDB, José Serra, e do PT, Dilma Rousseff, à sucessão presidencial. O levantamento a ser publicado na edição de domingo (28) pelo jornal Folha de S.Paulo e já disponível em bancas de jornal de São Paulo, aponta Serra com 32% das intenções de voto; Dilma Rousseff, com 28%; o deputado federal Ciro Gomes (CE), pré-candidato do PSB, com 12%; e a pré-candidata do PV, senadora Marina Silva (AC), com 8%. Na mostra anterior da Datafolha, divulgada em dezembro de 2009, Serra tinha 37%; Dilma 23%; Ciro 13%; e Marina 8%.

A pesquisa foi realizada entre os dias 24 e 25 de fevereiro. Do total de entrevistados (2.623), 9% disseram que vão votar branco, nulo ou em nenhum dos candidatos e 10% informaram que estão indecisos. O levantamento tem margem de erro de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.

A pesquisa também apresentou um cenário sem a presença de Ciro Gomes. Nessa simulação, aumentam para 38% as intenções de voto em Serra (ante 40% na pesquisa realizada entre 14 e 18 de dezembro); Dilma atinge 31% (ante 26% da pesquisa anterior); e Marina Silva fica com 10% (11% no levantamento de dezembro).

No cenário de segundo turno, numa eventual disputa entre Serra e Dilma, o tucano lidera com 45% das intenções de voto e a petista aparece com 41%. O levantamento realizado em dezembro apontava Serra com 49% das intenções de voto e Dilma com 34%. Em outro cenário de segundo turno, Dilma vence com 48%, contra 26% de Aécio.

O Datafolha apontou que o pré-candidato Serra registra o maior índice de rejeição entre os presidenciáveis, com 25%; seguido de Dilma com 23%; Ciro, com 21%; Aécio, com 20%; e Marina, com 19%. A pesquisa avaliou também o índice de aprovação do presidente Lula. Na mostra, a aprovação ficou em 73% (de ótimo e bom). Na pesquisa de dezembro, este índice foi de 72%, o mais alto patamar de popularidade apurado pelo Datafolha.

A pesquisa Datafolha está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sob protocolo nº 4080/2010.

Fonte: Portal R7

domingo, 21 de fevereiro de 2010

DISCURSO DO PRESIDENTE LULA NO CONGRESSO DO PT

FRASE



"...Enfim, das mulheres.

Para muitos, elas são "metade do céu". Mas queremos ser a metade da terra também..."

Ministra Dilma Rousseff no seu discurso após aclamada pré-candidata a Presidente da República pelo PT

DISCURSO DE DILMA ROUSSEFF - Aclamada pré-candidata a Presidente da República




20 de fevereiro de 2010

Queridas companheiras,

Queridos companheiros

Para quem teve a vida sempre marcada pelo sonho e pela esperança de mudar o Brasil, este é um dia extraordinário.



Meu partido - o Partido dos Trabalhadores - me confere a honrosa tarefa de dar continuidade à magnífica obra de um grande brasileiro.

A obra de um líder - meu líder - de quem muito me orgulho: Luiz Inácio Lula da Silva.

Jamais pensei que a vida viesse a me reservar tamanho desafio. Mas me sinto absolutamente preparada para enfrentá-lo - com humildade, serenidade e confiança.

Neste momento, ouço a voz de Minas Gerais, terra de minha infância e de minha juventude. Dessa Minas que me deu o sentimento de que vale a pena lutar pela liberdade e contra a injustiça. Ouço os versos de Drummond:

"Teus ombros suportam o mundo/

E ele não pesa mais do que a mão de uma criança"

Até hoje sinto o peso suave da mão de minha filha, quando nasceu.

Que força ela me deu. Quanta vida me transmitiu. Quanta fé na humanidade me passou.

Eram tempos difíceis.

Ferida no corpo e na alma, fui acolhida e adotada pelos gaúchos - generosos, solidários, insubmissos, como são os gaúchos.

Naqueles anos de chumbo, onde a tirania parecia eterna, encontrei nos versos de outro poeta - Mário Quintana - a força necessária para seguir em frente:

"Todos estes que aí estão/

Atravancando o meu caminho,/

Eles passarão.

Eu passarinho."

Eles passaram e nós hoje voamos livremente.

Voamos porque nascemos para ser livres.

Sem ódio e com serena convicção afirmo que nunca mais viveremos numa gaiola ou numa prisão.

Estamos construindo um novo país na democracia. Um país que se reencontrou consigo mesmo. Onde todos expressam livremente suas opiniões e suas idéias.

Um país que não tolera mais a injustiça social. Que descobriu que só será grande e forte se for de todos.

Vejo nesta manhã - nos jovens que nos acompanham e nos mais velhos que aqui estão - um extraordinário encontro de gerações. De gerações que, como a minha, levaram nosso compromisso com o país às últimas conseqüências.

Amadureci. Amadurecemos todos.

Amadureci na vida. No estudo. No trabalho duro. Nas responsabilidades de governo no Rio Grande e aqui.

Mas esse amadurecimento não se confunde com conformismo, nem perda de convicções.

Não perdemos a indignação frente à desigualdade social, à privação de liberdade, às tentativas de submeter nosso país.



Não sucumbimos aos modismos ideológicos. Persistimos em nossas convicções, buscando, a partir delas, construir alternativas concretas e realistas.

Continuamos movidos a sonhos. Acreditando na força do povo brasileiro, em sua capacidade de buscar e construir um mundo melhor.

A história recente mostrou que estávamos certos.

Tivemos um grande mestre - o Presidente Lula. Ele nos ensinou o caminho.

Em um país, com a complexidade e as desigualdades do Brasil, ele foi capaz de nos conduzir pelo caminho de profundas transformações sociais em um clima de paz, de respeito e fortalecimento da democracia.

Não admitimos, portanto, que alguém queira nos dar lições de liberdade. Menos ainda aqueles que não tiveram e não têm compromisso com ela.

Companheiras, Companheiros

Recebo com humildade a missão que vocês estão me confiando. Com humildade, mas com coragem e determinação. Coragem e determinação que vêm do apoio que recebo de meu partido e de seu primeiro militante - o Presidente Lula.

Do apoio que espero ter dos partidos aliados que, com lealdade e competência, também são responsáveis pelos êxitos do nosso Governo. Com eles quero continuar nossa caminhada. Participo de um governo de coalizão. Quero formar um Governo de coalizão.

Estou consciente da extraordinária força que conduziu Lula à Presidência e que deu a nosso Governo o maior respaldo da história de nosso país - a força do povo brasileiro.

A missão que me confiam não é só de um partido ou de um grupo de partidos.

Recebo-a como um mandato dos trabalhadores e de seus sindicatos.

Dos movimentos sociais.

Dos que labutam em nossos campos.

Dos profissionais liberais.

Dos intelectuais.

Dos servidores públicos.

Dos empresários comprometidos com o desenvolvimento econômico e social do país.

Dos negros. Dos índios. Dos jovens.

De todos aqueles que sofrem ainda distintas formas de discriminação.

Enfim, das mulheres.

Para muitos, elas são "metade do céu". Mas queremos ser a metade da terra também. Com igualdade de direitos, salários e oportunidades. Quero com vocês - mulheres do meu país - abrir novos espaços na vida nacional.

É com este Brasil que quero caminhar. É com ele que vamos seguir, avançando com segurança, mas com a rapidez que nossa realidade social exige.

Nessa caminhada encontraremos milhões de brasileiros que passaram a ter comida em suas mesas e hoje fazem três refeições por dia.

Milhões que mostrarão suas carteiras de trabalho, pois têm agora emprego e melhor renda.

Milhões de homens e mulheres com seus arados e tratores cultivando a terra que lhes pertence e de onde nunca mais serão expulsos.

Milhões que nos mostrarão suas casas dignas e os refrigeradores, fogões, televisores ou computadores que puderam comprar.

Outros milhões acenderão as luzes de suas modestas casas, onde reinava a escuridão ou predominavam os candieiros. E estes milhões de pontos luminosos pelo Brasil a fora serão como uma trilha incandescente que mostra um novo caminho.

Nessa caminhada, veremos milhões de jovens mostrando seus diplomas de universidades ou de escolas técnicas com a convicção de quem abriu uma porta para o futuro.

Milhões - mas muitos milhões mesmo - expressarão seu orgulho de viver em um país livre, justo e, sobretudo, respeitado em todo o mundo.

Muitos me perguntam porque o Brasil avançou tanto nos últimos anos. Digo que foi porque soubemos construir novos caminhos, derrubando velhos dogmas.

O primeiro caminho é o do crescimento com distribuição de renda - o verdadeiro desenvolvimento. Provamos que distribuindo renda é que se cresce. E se cresce de forma mais rápida e sustentável.

Essa distribuição de renda permitiu construir um grande mercado de bens de consumo popular. Ele nos protegeu dos efeitos da crise mundial.

Criamos 12 milhões de empregos formais. A renda dos trabalhadores aumentou. O salário mínimo real cresceu como nunca. Expandimos o crédito para o conjunto da sociedade. Estamos construindo um Brasil para todos.

O segundo caminho foi o do equilíbrio macro-econômico e da redução da vulnerabilidade externa.

Eliminamos as ameaças de volta da inflação. Reduzimos a dívida em relação ao Produto Interno Bruto.

Aumentamos nossas reservas de 38 bilhões de dólares para mais de 241 bilhões. Multiplicamos por três
nosso comércio exterior, praticando uma política externa soberana, que buscou diversificar mercados.

Deixamos de ser devedores internacionais e passamos à condição de credores. Hoje não pedimos dinheiro emprestado ao FMI. É o Fundo que nos pede dinheiro.

Grande ironia: os mesmos 14 bilhões de dólares que antes o FMI nos emprestava, agora somos nós que emprestamos ao FMI.

O terceiro caminho foi o da redução das desigualdades regionais. Invertemos nos últimos anos o que parecia uma maldição insuperável. Quando o país crescia, concentrava riqueza nos estados e regiões mais prósperos. Quando estagnava, eram os estados e regiões mais pobres que pagavam a conta.

Governantes e setores das elites viam o Norte e o Nordeste como regiões irremediavelmente condenadas ao atraso.

A vastos setores da população não restavam outras alternativas que a de afundar na miséria ou migrar para o sul em busca de oportunidades. É o que explica o inchaço das grandes cidades.

Essa situação está mudando. O Governo Federal começou um processo consistente de combate às desigualdades regionais. Passou a ter confiança na capacidade do povo das regiões mais pobres. O Norte e o Nordeste receberam investimentos públicos e privados. O crescimento dessas duas regiões passou a ser sensivelmente superior ao do Brasil como um todo.

Nós vamos aprofundar esse caminho. O Brasil não mais será visto como um trem em que uma única locomotiva puxa todos vagões, como nos tempos da "Maria Fumaça". O Brasil de hoje é como alguns dos modernos trens de alta velocidade, onde vários vagões são como locomotivas e contribuem para que o comboio avance.

O quarto caminho que trilhamos e continuaremos a trilhar é o da reorganização do Estado.

Alguns ideólogos chegavam a dizer que quase tudo seria resolvido pelo mercado. O resultado foi desastroso.

Aqui, o desastre só não foi maior - como em outros países - porque os brasileiros resistiram a esse desmonte e conseguiram impedir a privatização da Petrobrás, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica ou de FURNAS.

Alguns falam todos os dias de "inchaço da máquina estatal". Omitem, no entanto, que estamos contratando basicamente médicos e profissionais de saúde, professores e pessoal na área da educação, diplomatas, policiais federais e servidores para as áreas de segurança, controle e fiscalização.

Escondem, também, que a recomposição do corpo de servidores do Estado está se fazendo por meio de concursos públicos.

Vamos continuar valorizando o servidor e o serviço público. Reconstituindo o Estado. Recompondo sua capacidade de planejar, gerir e induzir o desenvolvimento do país.

Diante da crise, quando o crédito secou, não sacrificamos os investimentos públicos e privados. Ao contrário, utilizamos nossos bancos para impulsionar o desenvolvimento e a garantia de emprego no País.

Na verdade, quando a crise mundial apenas começava, Lula disse em seu discurso na ONU em 2008:

É chegada a hora da política!

Nada mais apropriado. A maior prova nós demos ao mundo: o Brasil só pôde enfrentar com sucesso a crise porque tivemos políticas públicas adequadas. Soubemos articular corretamente Estado e mercado, porque colocamos o interesse público no centro de nossas preocupações.

O quinto caminho foi o de nossa presença soberana no mundo.

O Brasil não mais se curva diante dos poderosos. Sem bravatas e sem submissão, o país hoje defende seus interesses e se dá ao respeito. É solidário com as nações pobres e em desenvolvimento. Tem uma especial relação com a América do Sul, com a América Latina e com a África. Estreita os laços Sul-Sul, sem abandonar suas relações com os países desenvolvidos. Busca mudar instituições multilaterais obsoletas, que impedem a democratização econômica e política do mundo.

Essa presença global, e o corajoso enfrentamento de nossos problemas domésticos em um marco democrático, explicam o respeito internacional que hoje gozamos.

O sexto caminho para onde convergem todos os demais foi o do aperfeiçoamento democrático.

No passado, tivemos momentos de grande crescimento econômico. Mas faltou democracia. E como faltou!

Em outros momentos tivemos democracia política, mas faltou democracia econômica e social. E sabemos muito bem que quando falta democracia econômica e social, é a democracia como um todo que está ameaçada. O país fica à mercê das soluções de força ou de aventureiros.

Hoje crescemos, distribuindo renda, com equilíbrio macro-econômico, expansão da democracia, forte participação social na definição das políticas públicas e respeito aos Direitos Humanos.

Quem duvidar do vigor da democracia em nosso país que leia, escute ou veja o que dizem livremente as vozes oposicionistas. Mas isso não nos perturba. Preferimos as vozes dessas oposições - ainda quando mentirosas, injustas e caluniosas - ao silêncio das ditaduras.

Como disse o Presidente Lula, a democracia não é a consolidação do silêncio, mas a manifestação de múltiplas vozes. Nela, vai desaparecendo o espaço para que velhos coronéis e senhores tutelem o povo. Este passa a pensar com sua cabeça e a constituir uma nova e verdadeira opinião pública.

As instituições funcionam no país. Os poderes são independentes. A Federação é respeitada. Diferentemente de outros períodos de nossa história, o Presidente relacionou-se de forma republicana com governadores e prefeitos, não fazendo qualquer tipo de discriminação em função de suas filiações partidárias.

Não praticamos casuísmos. Basta ver a reação firme e categórica do Presidente Lula ao frustrar as tentativas de mudar a Constituição para que pudesse disputar um terceiro mandato. Não mudamos - como se fez no passado - as regras do jogo no meio da partida.

Como todos podem ver, temos um extraordinário alicerce sobre o qual construir o terceiro Governo Democrático e Popular. Temos rumo, experiência e impulso para seguir o caminho iniciado por Lula. Não haverá retrocesso, nem aventuras. Mas podemos avançar muito mais. E muito mais rapidamente.

Queridas companheiras, queridos companheiros.

Não é meu propósito apresentar aqui um Programa de Governo.

Este Congresso aprovou as Diretrizes para um programa que será submetido ao debate com os partidos aliados e com a sociedade.

Hoje quero assumir alguns compromissos como pré-candidata, para estimular nossa reflexão e indicar como pretendemos continuar este processo iniciado há sete anos.

Vamos manter e aprofundar aquilo que é marca do Governo Lula - seu olhar social. Queremos um Brasil para todos. Nos aspectos econômicos e em suas projeções sociais, mas também um Brasil sem discriminações, sem constrangimentos. Ampliaremos e aperfeiçoaremos os programas sociais do Governo Lula, como o Bolsa Família, e implantaremos novos programas com o propósito de erradicar a miséria na década que se inicia.

Vamos dar prioridade à qualidade da educação, essencial para construir o grande país que almejamos, fundado no conhecimento e na justiça social. Mas a educação será, sobretudo, um meio de emancipação política e cultural do nosso povo. Uma forma de pleno acesso à cidadania. Daremos seguimento à transformação educacional em curso - da creche a pós-graduação.

Os jovens serão os primeiros beneficiários da era de prosperidade que estamos construindo. Nosso objetivo estratégico é oferecer a eles a oportunidade de começar a vida com segurança, liberdade, trabalho e realização pessoal.

No Brasil temos hoje 50 milhões de jovens, entre os 15 e os 29 anos de idade. Mais de um quarto da população brasileira. E eles têm direito a um futuro melhor.

O Brasil precisa muito da juventude. De profissionais qualificados. De mulheres e homens bem formados.

Isto se faz com escolas que propiciem boa formação teórica e técnica, com professores bem treinados e bem remunerados. Com bolsas de estudo e apoio para que os alunos não sejam obrigados a abandonar a escola. Com banda larga gratuita para todos, computadores para os professores, salas de aula informatizadas para os estudantes. Com acesso a estágios, cursos de especialização e ajuda para entrar no mercado de trabalho de todo o Brasil.

Serão esses jovens bem formados e preparados que vão nos conduzir à sociedade do conhecimento

Protegeremos as crianças e os mais jovens da violência, do assédio das drogas, da imposição do trabalho em detrimento da formação escolar e acadêmica.

As crianças e os mais jovens devem ser, sim, protegidos pelo Estado, desde a infância até a vida adulta, para que possam se realizar, em sua plenitude, como brasileiros.

Um País se mede pelo grau de proteção que dá a suas crianças. São elas a essência do nosso futuro. E é na infância que a desigualdade social cobra seu preço mais alto. Crianças desassistidas do nascimento aos cinco anos serão jovens e adultos prejudicados nas suas aptidões e oportunidades. Cuidar delas adequadamente é combater a desigualdade social na raiz.

Vamos ampliar e disseminar por todo o Brasil a rede de creches, pré-escolas e escolas infantis. Um tipo de creche onde a criança tem acesso a socialização pedagógica, aos bens culturais e aos cuidados de nutrição e saúde indispensáveis a seu pleno desenvolvimento. Isso é o que está previsto no PAC 2.

Vamos resolver os problemas da saúde, pois temos um incomparável modelo institucional - o SUS. Com mais recursos e melhor gestão vamos aprimorar a eficácia do sistema. Vamos reforçar as redes de atenção à saúde e unificar as ações entre os níveis de governo. Darei importância às Unidades de Pronto Atendimento, as UPAs, ao SAMU, aos hospitais públicos e conveniados, aos programas Saúde da Família, Brasil Sorridente e Farmácia Popular.

Vamos cuidar das cidades brasileiras. Colocar todo o empenho do Governo Federal, junto com estados e municípios, para promover uma profunda reforma urbana, que beneficie prioritariamente as camadas mais desprotegidas.

Vamos melhorar a habitação e universalizar o saneamento. Implantar transporte seguro, barato e eficiente.

Vamos reforçar os programas de segurança pública.

A conclusão do PAC 1 e a implementação do PAC 2, junto com a continuidade do programa Minha Casa, Minha Vida serão decisivos para realizar esse compromisso.

Vamos fortalecer a proteção de nosso meio ambiente. Continuaremos reduzindo o desmatamento e impulsionando a matriz energética mais limpa do mundo. Vamos manter a vanguarda na produção de biocombustíveis e desenvolver nosso potencial hidrelétrico. Desenvolver sem agredir o meio ambiente, com usinas a fio d'água e utilizando o modelo de usinas-plataforma. Aprofundaremos nosso zoneamento agro-ecológico. Nossas iniciativas explicam a liderança que alcançamos na Conferência sobre a Mudança do Clima, em Copenhague. As metas voluntárias de Copenhague, assumidas pelo Brasil, serão cumpridas, haja ou não acordo internacional. Este é o nosso compromisso.

Vamos aprofundar os avanços já alcançados em nossa política industrial e agrícola, com ênfase na inovação, no aperfeiçoamento dos mecanismos de crédito, aumentando nossa produtividade.

Agregar valor a nossas riquezas naturais, é fundamental numa política de geração de empregos no País. Tudo que puder ser produzido no Brasil, deve ser - e será - produzido no Brasil. Sondas, plataformas, navios e equipamentos aqui produzidos, para a exploração soberana do Pré-sal, vão gerar emprego e renda para os brasileiros. Emprego e renda que virão também da produção em indústrias brasileiras de fertilizantes, combustíveis e petroquímicos derivados do óleo bruto. Assim, com este modelo soberano e nacional, a exploração do Pré-sal dará diversidade e sofisticação à nossa indústria.

Os recursos do Pré-sal, aplicados no Fundo Social, sustentarão um grande avanço em nossa educação e na pesquisa científica e tecnológica. Recursos que também serão destinados para o combate à pobreza, para a defesa do meio ambiente e para a nossa cultura.

Vamos continuar mostrando ao mundo que é possível compatibilizar o desenvolvimento da agricultura familiar e do agronegócio. Assegurar crédito, assistência técnica e mercado aos pequenos produtores e, ao mesmo tempo, apoiar os grandes produtores, que contribuem decisivamente para o superávit comercial brasileiro.

Todas as nossas ações de governo têm uma premissa: a preservação da estabilidade macro-econômica.

Vamos manter o equilíbrio fiscal, o controle da inflação e a política de câmbio flutuante.

Vamos seguir dando transparência aos gastos públicos e aperfeiçoando seus mecanismos de controle.

Vamos combater a corrupção, utilizando todos os mecanismos institucionais, como fizemos até agora.

Vamos concretizar, junto com o Congresso, as reformas institucionais que não puderam ser completadas ou foram apenas parcialmente implantadas, como a reforma política e a tributária.

Vamos aprofundar nossa postura soberana no complexo mundo de hoje. Seremos intransigentes na defesa da paz mundial e de uma ordem econômica e política mais justa.

Enfim, vamos governar para todos. Com diálogo, tolerância e combatendo as desigualdades sociais e regionais.

Companheiras e companheiros,

Faremos na nossa campanha um debate de idéias, com civilidade e respeito à inteligência política dos brasileiros. Um debate voltado para o futuro.

Recebo essa missão especialmente como um mandato das mulheres brasileiras, como mais uma etapa no avanço de nossa participação política e como mais uma vitória contra a discriminação secular que nos foi imposta. Gostaria de repetir: quero com vocês, mulheres do meu País, abrir novos espaços na vida nacional.

Queridas amigas e amigos

No limiar de uma nova etapa de minha vida, quando sou chamada à tamanha responsabilidade, penso em todos aqueles que fizeram e fazem parte de minha trajetória pessoal.

Em meus queridos pais.

Em minha filha, meu genro e em meu futuro neto ou neta.

Nos tantos amigos que fiz.

Nos companheiros com quem dividi minha vida.

Mas não posso deixar de ter uma lembrança especial para aqueles que não mais estão conosco. Para aqueles que caíram pelos nossos ideais. Eles fazem parte de minha história.

Mais que isso: eles são parte da história do Brasil.

Permitam-me recordar três companheiros que se foram na flor da idade.

Carlos Alberto Soares de Freitas.

Beto, você ia adorar estar aqui conosco.

Maria Auxiliadora Lara Barcelos

Dodora, você está aqui no meu coração. Mas também aqui entre nós todos.

Iara Yavelberg.

Iara, que falta fazem guerreiras como você.

O exemplo deles me dá força para assumir esse imenso compromisso.

A mesma força que vem de meus companheiros de partido, sobretudo daquele que é nosso primeiro companheiro - Luiz Inácio Lula da Silva.

Esse ato de proclamação de minha candidatura tem uma significação que transcende seu aspecto eleitoral.

Estamos hoje concluindo o Quarto Congresso do Partido dos Trabalhadores.

Mais do que isso: estamos celebrando os Trinta Anos do PT.

Trinta anos desta nova estrela que veio ocupar lugar fundamental no céu da política brasileira.

Em um período histórico relativamente curto mudamos a cara de nosso sofrido e querido Brasil.

O PT cumpriu essa tarefa porque não se afastou de seus compromissos originais. Soube evoluir. Mudou, quando foi preciso.

Mas não mudou de lado.

Até chegar à Presidência do país, o PT dirigiu cidades e estados da Federação, gerando práticas inovadoras políticas, econômicas e sociais que o mundo observa, admira e muitas vezes reproduz. Fizemos isso, preservando e fortalecendo a democracia.

Mas, a principal inovação que o Partido trouxe para a política brasileira foi colocar o povo - seus interesses, aspirações e esperanças - no centro de suas ações.

Olhando para este magnífico plenário o que vejo é a cara negra, branca, índia e mestiça do povo brasileiro.

Esta é a cara do meu partido.

O rosto daqueles e daquelas que acrescentam a sua jornada de trabalho, uma segunda jornada - ou terceira - a jornada da militância.

Quero dizer a todos vocês que tenho um enorme orgulho de ser petista. De militar no mesmo partido de vocês. De compartilhar com Lula essa militância.

Estou aceitando a honrosa missão que vocês me delegam com tranqüilidade e determinação.

Sei que não estou sozinha.

A tarefa de continuar mudando o Brasil é uma tarefa de milhões. Somos milhões.

Vamos todos juntos, até a vitória.

Viva o povo brasileiro!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

PT É BRASIL, E O BRASIL SOMOS TODOS NÓS

PRESIDENTE LULA ENVIA AO CONGRESSO PROJETO DE LEI CONTRA A CORRUPÇÃO


Rodrigo Martins - CartaCapital

Na segunda-feira 8, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encaminhou ao Congresso um projeto que visa combater a corrupção contra a administração pública. O texto prevê, na esfera administrativa, a aplicação de multas de até 6 milhões de reais ou 30% do faturamento das empresas que fraudarem licitações, pagar propinas a funcionários públicos, superfaturar ou maquiar serviços e produtos vendidos ao governo. Essas companhias também podem ter o contrato rescindido ou serem impedidas de participar de novos processos de licitação.

Os processos administrativos devem ser concluídos em até 180 dias. Além disso, a Justiça poderá determinar o fechamento de empresas envolvidas em casos de corrupção mais graves. Pelo projeto, as companhias também podem ser obrigadas a ressarcir os prejuízos causados aos cofres públicos. Confira, abaixo, a entrevista com o ministro Jorge Hage, da Controladoria Geral da União (CGU), um dos idealizadores da proposta.


CartaCapital: Qual é a principal mudança prevista no projeto?

Jorge Hage: O projeto prevê punições pela via administrativa, sem ter que depender do Judiciário. Essa é a principal garantia de eficácia da nossa luta contra a impunidade. Garante que o processo começa e termina. O que não ocorre no Judiciário, e não por culpa dos magistrados. Eu sou juiz aposentado e sei que o problema reside na infinidade de recursos que a legislação brasileira permite, bem como na interpretação dos tribunais superiores, que não permitem o cumprimento da pena antes do transitado e julgado, o que não acontece nunca.

CC: Já não havia punições administrativas às empresas?

JH: Atualmente, a punição administrativa é a declaração de inidoneidade da empresa, o que pode impedi-la de participar de licitações públicas por algum período. Essa punição está prevista na Lei de Licitações. Criamos no nosso site um cadastro das empresas que receberam esta sanção, para que todos os órgãos públicos saibam quais são as companhias envolvidas com corrupção. Essa lista suja tem mais de 1,4 mil empresas inidôneas, que não podem fechar novos contratos com o poder público.

CC: As empresas são, de fato, impedidas de participar de licitações?


JH: Isso não é rigorosamente respeitado pelas prefeituras, isso a gente sabe. Mas nós estamos estimulando os governos estaduais a aderir ao nosso cadastro e vários deles já aderiram, como São Paulo, Bahia, Minas Gerais e Pernambuco. Eles nos informam a base de dados deles, das empresas que eles punem, e nós juntamos essas informações com as nossas, para ampliar o cadastro e torná-lo visível a todos. Mas essa é a única forma de punição hoje existente, além das multas contratuais. Só que essas multas são limitadas, coisa entre 5% e 10% do valor do contrato, o que não chega a inibir as grandes empresas de incorrer em práticas de corrupção. Então, o projeto de lei cria muitas outras formas de penalidade na esfera administrativa. E prevê punições maiores aplicáveis por decisão judicial.

CC: O que muda na esfera administrativa?

JH: Pela via administrativa, está prevista uma multa de 1% a 30% do faturamento bruto da empresa. O que é uma pena elevadíssima. No caso de não se conseguir informações fidedignas sobre o faturamento, aplicam-se multas de 6 mil a 6 milhões de reais. Segundo, declaração de inidoneidade englobará não apenas ilícitos cometidos em contratos, como é hoje, mas todas as formas de ilícitos em sua relação com a administração pública, incluindo pagamento de propinas. Terceiro, a empresa pode ser condenada a reparar integralmente o dano causado ao Erário. Hoje, não temos meios, pela via administrativa, de chegar ao patrimônio da empresa corruptora. Criamos a base legal para isso. Além disso, essas empresas ficariam impedidas de tomar empréstimos e financiamentos em bancos oficiais.

CC: Quais é a punição mais severa? Ela dependerá do aval da Justiça?


JH: A extinção da empresa é a punição mais extrema, prevista somente em casos muito graves, como a criação de empresas laranjas, constituídas para lavar dinheiro, fazer remessas ilegais de valores e proteger seus beneficiários. A extinção dessas empresas só será possível por decisão judicial. Além disso, também o confisco dos valores obtidos com a vantagem ilícita, o confisco de bens dos beneficiários, a suspensão ou interdição parcial das atividades da empresa. Todas são medidas que competem ao Judiciário, por provocação do Ministério Público ou da Advocacia Geral da União, das procuradorias estaduais e municipais.

CC: E se a empresa for condenada antes pela Justiça?

JH: Dificilmente ocorrerá a hipótese de existir um processo na Justiça, com condenação em primeira instância, antes da nossa autuação administrativa. Será muito mais rápido por aqui. Nós temos uma punição prevista para, no máximo, 180 dias. No Judiciário, nada acontece antes de 180 dias. Mas a pena aplicada pela administração pública pode, evidentemente, ser contestada pela empresa judicialmente. E isso já acontece hoje. Nós temos vários casos de declarações de inidoneidade que foram contestadas judicialmente, inclusive com mandados de segurança. Só que até agora nós, da CGU, nunca perdemos uma ação dessas.

CC: Todas essas 1,4 mil declarações de inidoneidade?

JH: Não. Esse número é a somatória de todas as declarações expedidas pela União, bem como pelos estados e municípios que aderiram ao cadastro. Não sei informar quantas dessas empresas recorreram ao Judiciário, mas todos os processos que eram da nossa competência foram vencidos pela União.

CC: E no caso das empresas brasileiras com atuação no exterior?

JH: O projeto também prevê a punição de empresas brasileiras com atuação no exterior por suborno transnacional. Esse é um compromisso do Brasil na convenção da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), um dos últimos aspectos que o País ainda precisa cumprir do acordo que é signatário. Trata-se da criação da norma jurídica para permitir a punição de empresas brasileiras que atuam globalmente, por atos de corrupção de funcionários estrangeiros ou de organismos internacionais.

CC: O senhor acredita que o empresariado será favorável à medida?

JH: O objetivo é buscar a transparência nas relações do setor público com o setor privado, de forma a combater a corrupção, que também traz danos para as empresas. O Instituto Ethos de Responsabilidade Social, que congrega um grande número de empresas, por exemplo, já manifestou apoio ao projeto. Nada é mais nocivo para livre competição do que a corrupção, o pagamento de propina, as fraudes em licitações públicas. As empresas sérias e idôneas têm todo o interesse de ver um projeto desses ser aprovado, porque terão condições de competir em pé de igualdade com qualquer outra empresa. E elas também não se sentirão estimuladas a participar de esquemas de corrupção, tendo em vista as punições previstas aos infratores.

CC: E o lobby das empresas que se beneficiam da corrupção?

JH: Eu acredito que essas empresas terão dificuldade de manifestar à luz do dia, às claras, esse tipo de resistência. Porque as boas entidades empresariais, que cobram tanto do poder público regras limpas e claras, não têm como ficar contra o projeto. E imagino que elas vão pressionar os congressistas pela aprovação de qualquer medida mais forte no combate à corrupção.

PT, 30 ANOS DEFENDENDO O BRASIL


PT, 30 ANOS MILITANTE PELO BRASIL

Artigo publicado na coluna Tendências / Debates do jornal Folha de São Paulo, edição de 10/02/2010.

O PT completa hoje 30 anos. No dia 10 de fevereiro de 1980, gente das mais diferentes origens reuniu-se no colégio Sion, em São Paulo, para tomar a decisão que mudou a história política do Brasil. O PT na origem era um pequeno partido, com uma imensa vontade de crescer. O PT de hoje governa o Brasil, cinco Estados e mais de 500 prefeituras. Homenageamos todos os que tiveram a coragem de tomar essa decisão. Especialmente os que pagaram com a vida a determinação de lutar.

Três décadas construindo a democracia no Brasil, trajetória construída paulatinamente e marcada por luta pelos direitos sociais, defesa dos interesses nacionais, do desenvolvimento nacional e da integração latino-americana. No 30º aniversário, celebramos um partido democrático, popular e socialista que soube unir setores diferentes da esquerda democrática num projeto transformador da sociedade brasileira.

A ousadia de fundar um Partido dos Trabalhadores ocorreu num momento em que o sistema político bipartidário da ditadura estava esgotado, quando as lutas sociais, clamando por mudanças, exigiam novas opções partidárias. Sofremos críticas sobre supostas divisões no campo democrático, mas o tempo encarregou-se de confirmar a importância histórica do projeto do PT. Um partido que nasceu com um projeto de uma nova democracia política, oriundo das lutas sindicais e populares para construir um país justo e democrático, defensor de nossa soberania, de nossas riquezas e do interesse público.

A militância superou os desafios da montagem da estrutura do partido, enfrentando a legislação draconiana do governo militar. O partido cresceu de maneira orgânica e amadureceu até chegar à compreensão plena da importância estratégica das alianças, decisivas para quem quer realizar um projeto transformador.

Em sua trajetória histórica, como ente coletivo, o PT refletiu e mudou, mas nunca mudou de lado, como mostram as conquistas do governo Lula. Temos hoje 1 milhão e 300 mil filiados que acreditam no projeto e militam para que ele prossiga.

Um traço dessa história militante do PT é a capacidade de apontar para o partido e para a sociedade objetivos ousados, porém plausíveis. O crescimento do PT resultou de sua capacidade de construir suas teses a partir das lutas reais do povo. Como na Constituinte de 1987, uma pequena bancada de 16 deputados e nenhum senador se agigantou apoiada na mobilização popular.

Ao longo de sua trajetória, o PT soube usar essa característica para, com seus militantes, mobilizar e conquistar. Empunhamos bandeiras históricas, como a da luta pela terra, pela saúde, pela educação, pelo emprego, pelos direitos humanos, pela integração continental, pela defesa das minorias e contra a discriminação. Assim, superamos o dilema de ser partido de massas ou de quadros e nos fortalecemos como canal de representação e de participação de milhões de brasileiros.

Trinta anos de ampliação dos espaços de cidadania, rompendo com modelos populistas e com as fórmulas prontas -algumas importadas- para os problemas nacionais. Reinventamos o funcionamento do partido com as cotas de mulheres nas direções, os setoriais temáticos e as eleições diretas partidárias, o PED. O PT sempre valorizou o conceito de militância, grande insumo de nossa renovação.

Dessa forma avançamos, chegamos às prefeituras e aos governos estaduais, ampliamos as bancadas parlamentares e as bases sociais, até a vitória histórica de Lula em 2002. As grandes bandeiras de nossa luta foram materializadas no governo Lula, que colocou o Brasil no rumo da redução acelerada das desigualdades sociais e regionais, ampliando a renda interna, gerando um mercado de massas, criando empregos e políticas públicas transformadoras, arquivando a teoria do Estado mínimo, que tantos males causou ao Brasil.

O governo do PT mudou a imagem do país, levando-o a um novo patamar no cenário mundial. Lula é referência internacional.

Nossos militantes, com os partidos aliados, preparam-se agora para construir um programa que garanta as mudanças implementadas pelo governo Lula, aprovadas por mais de 80% da população, e apresente novas metas ao povo brasileiro. Desejamos consolidar o projeto democrático popular colocado em prática pelo governo Lula, mas aprofundando e acelerando os avanços conquistados.

Aos 30 anos, o PT olha para sua história com o orgulho de quem ajudou a construir a democracia e hoje lidera o governo mais popular da história do Brasil. Mas olhamos para a frente com a humildade de quem sabe que na política cada desafio vencido abre dezenas de novas responsabilidades.

Viva o PT!

José Eduardo Dutra é geólogo, ex-senador da República (PT-SE), ex-presidente da Petrobras, é o novo presidente do PT.

Ricardo Berzoini, 50, bancário e deputado federal (PT-SP), conclui hoje seu mandato de presidente do PT

domingo, 14 de fevereiro de 2010

A MARCHINHA DA DILMA

SERRA CHAMA MANIFESTANTE DE ENERGÚMENO


Agencia Estado


GUARARAPES, SP - Depois de ser vaiado por diversas vezes, o governador José Serra (PSDB) bateu boca e chamou um manifestante de "energúmeno" durante discurso para uma plateia de cerca de 150 pessoas nesta tarde, na praça Nossa Senhora da Conceição, no centro de Guararapes, a 560 km de São Paulo.

O governador participava das solenidades de entrega de 57 ônibus para prefeitos da região quando teve o discurso interrompido por um dos 50 manifestantes do Sindicato dos Professores (Apeoesp) que, com narizes de palhaço, faixas e cartazes, promoviam um apitaço para criticar a política educacional do governo do Estado.

No momento em que pedia ajuda dos prefeitos para instalação de uma rede de hospitais para atendimento de portadores de deficiências físicas, Serra, cortado por gritos de um manifestante que caminhava em direção ao palanque, disparou: "Este energúmeno que está gritando é contra o atendimento dos cegos, é contra os deficientes físicos, é contra os ônibus escolares, é contra o Acessa São Paulo, é contra tudo e todos e é contra a maioria que está aqui", discursou o governador, sendo aplaudido.

O tucano emendou: "Este energúmeno é um sujeito que certamente nunca teve um parente com deficiência física para ficar tripudiando essas pessoas desta maneira", completou o governador. O manifestante, um homem de cabelos brancos, ainda tentou responder ao governador, mas foi retirado da plateia por policiais que faziam segurança do local.

O bate-boca se deu após o governador ter sido vaiado por diversas vezes pelos manifestantes. Assim que chegou, o governador ouviu os gritos de "Serra nunca mais", "Pedágio, Pedágio" e "Mentiroso, Mentiroso". Irritado, respondeu que se tratava de "meia dúzia de gatos pingados da Apeoesp, que na campanha passada queimaram livros, que foram distribuídos para alunos e professores, em praça pública". "Eles estão em campanha eleitoral, uma campanha que eu não comecei", afirmou durante o discurso.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

GOVERNADOR ARRUDA SE ENTREGA À POLÍCIA FEDERAL

O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, se apresentou à Polícia Federal na tarde desta quinta-feira, cumprindo decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que decretou a sua prisão preventiva.

Assim que os ministros do STJ referendaram o pedido de prisão preventiva, por 12 votos a dois, ele deixou a residência oficial em direção à Superintendência da PF. O pedido de prisão foi feito pela Procuradoria-Geral da República relativo à suposta tentativa de suborno do jornalista Edmilson Edson dos Santos, o Sombra, testemunha do mensalão do DEM. Arruda chegou acompanhado vários carros e escoltado por policiais militares, já que no local havia muitos manifestantes.

O ministro relator do inquérito da Operação Caixa de Pandora, que investiga o mensalão do DEM, ministro Fernando Gonçalves, já havia acatado o pedido de prisão. A decisão foi referendada em seguida pela Corte Especial do STJ, composta pelos 15 membros mais antigos do tribunal, que se reuniu de forma extraordinária nesta tarde.

A Polícia Federal recebeu imagens que comprovariam o suborno do servidor aposentado Antônio Bento da Silva ao jornalista, uma das testemunhas mais importantes do suposto esquema de pagamento de propinas. Segundo a corporação, o vídeo mostra o momento em que Silva entrega uma sacola com R$ 200 mil em espécie para o jornalista. Sombra foi o responsável por convencer o ex-secretário de Relações Institucionais e pivô do escândalo, Durval Barbosa, a delatar o esquema à polícia.

Segundo o jornalista relatou à PF, Arruda pagaria para que ele mudasse seu depoimento dizendo que os vídeos em que o governador aparece recebendo dinheiro de suposta propina foram montados. Sombra ajudou a armar o flagrante do suborno, que acabou com a prisão de Bento da Silva.

ENTENDA O CASO


O mensalão do governo do DF, cujos vídeos foram divulgados no final do ano passado, é resultado das investigações da operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. O esquema de desvio de recursos públicos envolvia empresas de tecnologia para o pagamento de propina a deputados da base aliada.

O governador José Roberto Arruda aparece em um dos vídeos recebendo maços de dinheiro. As imagens foram gravadas pelo ex-secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, que, na condição de réu em 37 processos, denunciou o esquema por conta da delação premiada. Em pronunciamento oficial, Arruda afirmou que os recursos recebidos durante a campanha foram "regularmente registrados e contabilizados".

As investigações da Operação Caixa de Pandora apontam indícios de que Arruda, assessores, deputados e empresários podem ter cometido os crimes de formação de quadrilha, peculato, corrupção passiva e ativa, fraude em licitação, crime eleitoral e crime tributário.

Redação Terra

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

LULA É O PRESIDENTE DO POVO


Lula: "mercado não resolve problema de quem é pobre"

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu hoje (9) as críticas feitas a um suposto documento do PT no qual constaria que o próximo governo daria uma “guinada à esquerda”, caso a pré-candidata do partido, Dilma Rousseff, ganhe as eleições presidenciais deste ano. Segundo Lula, esse é um “debate ultrapassado com gosto de coisa mofada”.

Ao discursar durante a cerimônia de inauguração de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no município de Governador Valadares (MG), Lula afirmou que não acredita na ideia do Estado mínimo, mas isso não representa a volta ao período de estatização de empresas.

“Vocês estão vendo no jornal que o governo vai fazer o Estado ficar maior, que vai estatizar. Uma bobagem imensa, um debate da década de 1950, 1960. Esse debate está superado”, disse Lula.

Lula descartou o Estado mínimo e também um governo totalmente estatizante. “Não acreditamos na ideia de Estado mínimo e tampouco acreditamos na ideia de que o mercado resolve tudo. O mercado resolve o problema de quem tem prata no bolso, mas não resolve o problema de quem é pobre”, acrescentou o presidente.

No último sábado, um jornal da imprensa paulista disse que um suposto projeto do PT pregava “maior presença do Estado na economia, com fortalecimento das empresas estatais e das políticas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal para o setor produtivo.”

Lula ressaltou hoje que se não fosse o Estado o mercado teria quebrado durante a crise econômica mundial, no ano passado. “Se não fosse o governo, não teria o programa Luz para Todos, não teria o programa Bolsa Família, o Projovem, porque quem cuida das pessoas que não têm [condições econômicas] é o governo. Quando deu a crise na Europa e nos Estado Unidos, quem salvou [os países] foi o Estado”, discursou.

De acordo com o presidente, no Brasil foram a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil e o BNDES que deram sustentabilidade econômica nos momentos da crise. Para Lula, o Estado deve, sim, ser responsável por oferecer saúde e educação para todos.

Publicado na Agência Brasil

EDINHO SILVA E O MODELO TUCANO DE IN-SEGURANÇA PÚBLICA


05/02/2010
O modelo de segurança pública no Estado de SP chegou ao seu limite

Nesta semana vimos estampado nas capas dos jornais de todo o estado o que significa a falta de uma política consistente e de valorização dos profissionais da área de Segurança Pública. Os números de homicídios e o recorde histórico de roubos nas cidades paulistas evidenciam, de fato, a falência do modelo de segurança adotado pelo governo tucano.

O número de homicídios aumentou no estado pela primeira vez em 10 anos. Em 2009, foram registradas 4.771 vítimas. Em 2008, 4.690. O fator preocupante é que esse número foi puxado pelo interior, o que mostra uma tendência de aumento de violência em cidades com número menor de habitantes. É a prova de que o modelo não responde às necessidades da população.

Tivemos uma piora generalizada nos índices de crimes. O estado bateu recorde de roubos em 2009, chegando a 257 mil ocorrências, 18% acima do ano anterior. Casos de latrocínios (roubos seguidos de morte) cresceram 14% em relação a 2008. As ocorrências de extorsão (mediante seqüestro) subiram de 60 casos em 2008 para 85 em 2009.

A população sente na pele a falência do modelo de segurança. O enfrentamento em praça pública da polícia civil e militar que vimos em 2007, é a demonstração mais evidente de que a política demotucana chegou ao seu limite.

São anos de precarização da segurança pública e de outras políticas públicas sociais como educação, saúde, esporte e cultura. Os dados da Execução Orçamentária do Governador José Serra, de janeiro a outubro de 2009, levantados pela Bancada do PT na Assembleia Legislativa, demonstram sua retirada das políticas de segurança.

Enquanto o governo paulista teve um gasto de R$ 254 milhões em publicidade, apenas R$ 2,4 milhões foram destinados ao policiamento escolar. Até outubro, o governo gastou somente R$ 155 milhões, dos R$ 650 milhões disponíveis com policiamento comunitário. O investimento nas instalações da polícia civil do estado está muito aquém das expectativas. No orçamento foram disponibilizados R$ 42 milhões. Mas, até outubro, apenas R$ 18 milhões foram empenhados, ou seja, menos de 50%. Já o investimento na inteligência policial recebeu apenas R$ 135 milhões, dos R$ 253 milhões destinados.

Não há dúvidas que São Paulo precisa urgentemente de uma política pública estruturada de segurança pública que garanta não só o bem estar físico e social da população, como também a ressocialização de infratores.

Ao contrário disso, o que vemos em São Paulo são unidades superlotadas, com condições indignas de sobrevivência e que pouco ou nada contribuem para a ressocialização. Vemos ainda o Governador anunciando presídios em cidades sem qualquer critério, sem ao menos dialogar com a comunidade e gestores municipais. O Governo mostra seu autoritarismo ao anunciar via edital a construção de unidades, desesperando prefeitos, vereadores e comunidades que, depois arcam com as demandas sociais e econômicas resultantes da instalação.

Vemos ainda Governo Serra onerando os cofres dos municípios, responsabilizando-os de diversos serviços que seriam de sua competência como aluguel de imóveis, combustível de viaturas policiais, cessão de funcionários entre outros.

Penso que a segurança pública deve ser um debate central da sociedade. É preciso formular o papel que o Estado tem que cumprir na segurança pública e qual modelo queremos construir. Segurança tem que ter o controle social, tem que haver participação, instrumentos e mecanismos de controle.

Devemos debater as medidas alternativas, a política de ressocialização, prevenção por meio de programas culturais, educacionais para a juventude vulnerável ao mundo do crime, investimentos na infraestrutura de setores carentes entre outros. Devemos, sobretudo, discutir uma política de valorização dos profissionais da segurança.

É preciso parar de discutir somente a expansão das unidades prisionais no estado.

COMBATE À FOME - GOVERNO LULA E O DIREITO À VIDA


Luciana Abade
Jornal do Brasil - 10/02/2010

O Orçamento do governo federal para melhorar a alimentação dos brasileiros será, este ano, 36% maior que o do ano passado. Os R$ 960 milhões serão investidos na instalação de restaurantes populares, cozinhas comunitárias, bancos de alimentos, construção de cisternas na região do semiárido, entre outros programas de combate à fome.

BRASÍLIA - A Presidência da República acaba de sancionar(sic) a Proposta de Emenda Constitucional 64/2007, que altera a Constituição para inserir a alimentação como direito social. Na prática, a PEC, de autoria do Senado, e que será batizada de Emenda Betinho do Direito à Alimentação, visa consolidar a segurança alimentar como política de Estado, assim como já são o trabalho, a moradia, o lazer e a segurança, entre outros. Ao contrário dos outros direitos, contudo, a alimentação tem sido foco de diversas políticas públicas e, longe de ser apenas mais uma letra morta na Carta Magna, caminha para a universalização.

O orçamento para melhorar a segurança alimentar da população brasileira em 2010 será de R$ 960 milhões, um aumento de 36% em relação ao ano passado e mais de 100% em relação a 2005, quando foram investidos R$ 407 milhões. Os recursos disponibilizados serão investidos na implantação de instalações públicas como restaurantes populares, cozinhas comunitárias, bancos de alimentos, construção de cisternas na região do Semiárido e em programas de aquisição de alimentos da agricultura familiar.

– A fome endêmica denunciada pelo Graciliano Ramos, em Vidas Secas, a fome tão estudada pelo Josué de Castro, que mobilizou o Betinho, as Vidas Severianas, de João Cabral de Melo Neto, essa não existe mais – garante o ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, para quem o compromisso firmado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que todos os brasileiros vão fazer três refeições por dia até o final do seu mandato está perto de ser cumprido.

Segundo o presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar, Renato Maluf, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deve anunciar nos próximos dias o segundo levantamento nacional sobre insegurança alimentar. O primeiro, feito em 2004, mostrava que 35% da população brasileira ainda sofria com a insegurança alimentar. Na prática, isto significa que aproximadamente 66 milhões de brasileiros se alimentam pouco e mal, ou pertencem a famílias cuja uma pequena oscilação na renda comprometia a garantia da alimentação.

Renato Maluf afirma que o levantamento do IBGE mostrará que uma parcela considerável da população que sofria de insegurança alimentar grave terá passado para os níveis moderado ou leve na escala de insegurança alimentar. Principalmente, segundo ele, porque cresceu o investimento em políticas sociais de transferência de renda, houve reajustes do salário mínimo, investimentos na agricultura familiar e aumento no repasse de recursos para a merenda escolar.

Pesquisa do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome mostra que 94,2% das crianças de famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família fazem três refeições por dia. Entre elas, 84% fazem pelo menos uma refeição diária na escola. O número de jovens e adultos que fazem três refeições diárias chega a 85%, com distribuição similar no Nordeste (89,2%), Norte (88,1) e Sul (83,6%). Centro Oeste e Sudeste tiveram menores percentuais, sendo 75,6% e 71,2% respectivamente, porque, de acordo com o MDS, o custo de vida nas duas regiões são maiores que as demais e os impactos do programa são menores.

Mesmo com os avanços, o presidente do Confea afirma que algumas regiões ainda sofrem com a insuficiência alimentar grave. É o caso da região rural da Amazônia, do Semiárido e também de alguns centros urbanos. A situação das famílias rurais, de acordo com Maluf, é uma paradoxo: apesar de produzirem os alimentos, são as que mais apresentam indicadores efetivos da pobreza.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

BOLSA FAMÍLIA E A IMPRENSA QUE NÃO PENSA


Do Observatório da Imprensa
BOLSA FAMÍLIA E A MÍDIA
A cobertura (omissa) das políticas sociais


Por Ângela Carrato e João Mendes em 9/2/2010

Os leitores de Veja, O Globo e O Estado de S.Paulo se depararam, nos últimos dias, com uma série de matérias contendo dados equivocados e juízos de valor que não se sustentam em se tratando do Programa Bolsa Família, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Em comum às três matérias, além dos equívocos, uma nítida tentativa de vincular o programa – que é referência nacional e internacional em redução de pobreza – com ações eleitoreiras e até mesmo com o que denominam de “terrorismo eleitoral”.

A primeira matéria coube à revista Veja que, na edição 2149 (de 24/1/2010), sob o título de “Bolsa-Cabresto”, publicou duas páginas onde, no lugar de informações para o leitor, lançou mão de dados equivocados, chegou a números fantasiosos e nem se deu ao trabalho de ouvir o MDS antes de publicar a sua “tese” sobre o assunto. Na segunda-feira (25/1), a Assessoria de Comunicação do MDS enviou à Veja uma nota de esclarecimento, na qual rebatia todos os pontos da matéria e solicitava que a revista a publicasse na próxima edição. Na terça-feira (26), a repórter de Veja que assina a matéria, Laura Diniz, fez contato com a Assessoria de Comunicação do MDS e solicitou mais alguns dados, no que foi prontamente atendida.

Na oportunidade, a assessora responsável direta pelo Programa Bolsa Família, jornalista Roseli Garcia, informou à repórter de Veja que o MDS havia enviado a nota de esclarecimento e que aguardava a publicação. Em resposta, ouviu que a nota estava “grande demais” e que “dificilmente seria publicada”. Na noite de quarta-feira (27), a repórter encaminhou para o MDS um texto com a proposta de retificação por parte da revista Veja. A nota, num total de quatro linhas, nem de longe contemplava as correções apontadas pelo ministério na matéria publicada por Veja.

Diante disso, a Assessoria de Comunicação encaminhou, na quinta-feira, ao diretor de redação de Veja Eurípedes Alcântara e ao redator-chefe, Mario Sabino, uma mensagem contendo todo o ocorrido e solicitando, em respeito aos leitores e à verdade, a publicação da resposta na íntegra. Não recebemos retorno por parte dos dois dirigentes da revista. Aliás, as duas mensagens foram descartadas sem terem sido lidas. Na sequência, a repórter responsável pela matéria telefonou para Ascom/MDS solicitando uma diminuição no tamanho da nota. Atendendo a esse pedido, essa redução foi feita de forma a contemplar explicações mínimas que pudessem fazer o leitor entender o equívoco cometido pela revista. Essa nova nota foi encaminhada na noite de quinta-feira (28/1).

Na sexta-feira, a repórter liga novamente para Ascom/MDS dizendo que a carta “continuava grande demais” e que tinha preparado uma correção, pois considerava “melhor para o ministério” a retificação da revista do que a publicação da carta. A ela foi respondido que preferíamos a carta, por esclarecer melhor o caso aos leitores.

Veja optou pela correção que ela própria fez, publicada em corpo minúsculo sem ter respondido aos principais equívocos apontados pela Ascom/MDS. Além disso, em destaque, publicou duas cartas de leitores que continham críticas ao Programa Bolsa Família a partir de uma matéria repleta de erros. Vale dizer: amplificou, novamente, o próprio erro, sem aceitá-lo como tal.

Campeões da democracia

Já no dia 1º de fevereiro, o MDS é novamente surpreendido. Em editorial, intitulado “Bolsa Família e eleição” o jornal O Estado de S. Paulo, utilizando os mesmos argumentos usados na matéria da revista Veja, afirma que não haveria exclusão de beneficiários do programa em 2010. O que é um equívoco, pois já em fevereiro estão sendo cancelados 710 mil benefícios por falta de atualização cadastral. A Ascom/MDS encaminhou carta ao Estado de S. Paulo explicando que o editorial fazia uma análise equivocada da instrução operacional do MDS – que apenas detalha o trabalho as ser feito pelos gestores do Programa Bolsa Família em 2010 – idêntica à cometida pela revista Veja.

No dia seguinte, o jornal publicou a íntegra da carta e questionou o seu conteúdo, afirmando que o documento “não permite conhecer a fundo os critérios estabelecidos pelo programa, o erro não é do jornal, mas do Ministério”. Como rege o bom jornalismo, se um documento não está claro, cabe ao jornalista estudar o assunto e informar de maneira clara aos seus leitores. Em outras palavras, faltou ao Estado de S.Paulo ater-se a uma regra básica no jornalismo: a apuração. Nesse ponto, aliás, O Estado de S.Paulo, O Globo e Veja se assemelham: estão deixando de apurar e publicando o que acreditam ser a verdade.

Na mesma segunda-feira (1/2), devido ao editorial de O Estado de S.Paulo, a Ascom/MDS foi procurada pela reportagem de O Globo. Todas as explicações dadas à Veja e ao Estado de S.Paulo foram repassadas a O Globo, mostrando os equívocos cometidos pelas duas outras publicações. Mas o jornal, lendo a instrução normativa – que trata apenas de procedimento em relação à atualização cadastral – encaminhada pelo MDS aos gestores, abordou outro aspecto também de forma incorreta. O Globo classificou essa norma, em manchete, como: “Governo faz ameaça eleitoral ao recadastrar Bolsa Família”.

Mais uma vez a Ascom/MDS encaminhou carta ao jornal, que foi utilizada na matéria do dia seguinte em texto intitulado “Tiroteio com o Bolsa Família”. Neste texto, o jornal utiliza as declarações de parlamentares de partidos da oposição ao governo para sustentar a polêmica criada pelo próprio veículo.

O assunto repercutiu em vários veículos nacionais e também na imprensa regional, criando uma situação no mínimo curiosa para quem é leitor atento ou para aqueles que se interessam pelo comportamento de parte da mídia brasileira. Nos dias atuais, a mídia tem deixado de lado o papel clássico de informar, interpretar e opinar (nos espaços devidos) para, ela própria, tornar-se a origem da informação e, não raro, ator no cenário político nacional.

No caso do Programa Bolsa Família, as informações e a análise apresentadas pela mídia foram equivocadas e funcionaram como retroalimentação. Num dia um veículo publica algo equivocado. Não retifica o erro. No dia seguinte, outro veículo, tomando o que foi publicado como verdade, amplifica o erro. No terceiro dia, um novo veículo entra “na roda” e assim a “polêmica” está criada. Para confirmar os pressupostos da mídia, políticos de oposição são entrevistas e ganham destaque.

Essa situação em si é extremamente preocupante para o futuro das instituições e para a própria democracia no Brasil, porque deixa a parte atingida, no caso o agente público, sem condição para restabelecer a verdade. A preocupação torna-se maior ainda quando se sabe do papel central que a mídia tem na sociedade contemporânea.

No caso brasileiro, a censura oficial à imprensa foi abolida há décadas e a liberdade de informação e expressão encontra-se consagradas na Constituição de 1988. Mas, infelizmente, o que se percebe é que o poder de censura, que nos governos autoritários estava nas mãos do Estado, migrou para as mãos de um reduzido número de empresas e de articulistas que se auto-intitulam os porta-vozes da verdade e os campeões da democracia. Essa situação torna-se ainda mais difícil quando dentro dos grandes grupos midiáticos prevalecem as velhas ideologias do liberalismo do século 18 e 19.

Escolhas próprias

Nos três casos descritos, faltou muito mais do que o necessário restabelecimento da verdade. Faltou seriedade profissional e empresarial na cobertura de um tema da maior importância para a sociedade brasileira e que mexe com a vida de milhares de pessoas. Dia a dia, o que se verifica é que a mídia brasileira não percebeu que o Brasil mudou e que as políticas sociais estão instituídas enquanto políticas públicas, que demandam conhecimento e acompanhamento permanente em relação ao seu funcionamento. As políticas públicas na área social estão sepultando a cultura política da dádiva, contribuindo para a emancipação das pessoas e para a plena cidadania.

Com exceção de uns dois ou três jornalistas que se especializaram – por conta própria – na cobertura dos chamados programas sociais, não há, na mídia brasileira, quem acompanhe, com um mínimo de regularidade, a vida desses programas e, sobretudo, os seus resultados. Apesar da importância dos programas sociais, a mídia brasileira ainda não criou, sequer, uma editoria específica para a cobertura deles. E se no passado podia-se argumentar que as classes C, D e E não tinham peso no mercado, também esse argumento não mais se sustenta. A cobertura jornalística das políticas públicas é um dos grandes desafios e uma das maiores deficiências da imprensa brasileira.

Em anos de eleição, as dificuldades se acentuam mais. A disputa política envolve grandes riscos para os jornalistas. Se muitos temem se tornar instrumento de propaganda eleitoral de governos e candidatos, ao cobrir de forma acrítica o desempenho dos programas sociais, há igualmente o risco de dar a todas as políticas públicas um caráter e uma intenção eleitorais e, com isso, deixar de levar ao cidadão beneficiado as informações essenciais. Isso, sem falar na arrogância daqueles que se arvoram em “defensores do povo” sem, ao menos, dar a palavra a quem é de direito.

Voltando ao caso da revista Veja, chama atenção na matéria citada como os grandes ausentes do texto são os beneficiários do Programa Bolsa Família. Eles aparecem na foto que ilustra a matéria, mas não são ouvidos pela repórter. Se ouvidos, esses beneficiários teriam muito a dizer sobre o que está mudando em suas vidas. Mas, ao que tudo indica, isso não é interessante para os porta-vozes do nicho mais conservador da sociedade brasileira. Motivo pelo qual se prefere dar voz aos “formadores de opinião”, sejam eles cientistas políticos ou articulistas.

A importância da mídia para a formação da opinião pública é inegável, mas a cada dia o cidadão e a cidadã se mostram mais conscientes e competentes ao fazerem as suas escolhas. Escolhas não só em termos eleitorais, mas escolhas sobre o que ler e onde buscar informações. Não é por acaso que a tiragem da mídia impressa brasileira tem apresentado acentuado declínio nos últimos anos, enquanto crescem exponencialmente os acessos aos sites e blogs.

FRASE




"A diferença é que com o PT o povo não precisa se humilhar para ter Direitos..."


do Blog da Dilma Presidente

DILMA AVANÇA


Inquietação nas oposições
7 de fevereiro de 2010

Estamos vivendo, neste começo de ano, um período de inquietação dentro das oposições. Seja em seus representantes políticos e nas lideranças da sociedade civil que se alinham com elas, seja na parcela da opinião pública que não gosta do governo, é nítida a perplexidade. As coisas não estão acontecendo como esperavam.

Ao lado daqueles que nunca o aceitaram, Lula passou a ter, nos últimos anos, uma aprovação quase que a contragosto, característica da classe média com alguma informação. Na maior parte das vezes, vinda de pessoas que jamais votaram nele, sequer no segundo turno de 2006, mas que se viam como que constrangidas a concordar que seu governo tem lá alguns méritos.

Talvez se sentissem fora de lugar, quando eram informados dos recordes de popularidade que Lula batia a cada pesquisa. Talvez colocassem em dúvida suas próprias antipatias, ao saber que nunca antes, na história deste país, um presidente brasileiro fez tanto sucesso mundo afora.

Daí a aceitar que ele fosse capaz da proeza de eleger alguém como Dilma, no entanto, a distância é grande. Uma coisa é reconhecer, ainda que com várias ressalvas, suas qualidades. Outra é se conformar com a possibilidade de ele continuar a ser o que é por mais alguns anos.

Ou seja, enquanto perdurou, entre essas pessoas, a sensação de que o fim do lulismo estava próximo, o cenário podia ser complicado, mas era suportável. Tudo de que desgostavam ainda existia, mas tinha data marcada para acabar.

A larga vantagem de Serra nas pesquisas funcionou como uma espécie de seguro de que a hegemonia de Lula na política brasileira, com tudo que dela decorre, não continuaria. Lendo-as apressadamente, muita gente ficou com a impressão de que Dilma estava fadada a perder a eleição. Alguns foram ao ponto de assegurar que isso já estava definido, o que soou como música para os desafetos do governo, mas não era verdade.

Nenhuma pesquisa nunca disse isso. Ao contrário, todas sempre apontaram o largo potencial de crescimento da ministra, que permanecia atrás nas intenções de voto apenas por ser menos conhecida que alguns dos outros candidatos e ainda pouco associada a Lula e à ideia de continuidade.

Enquanto Dilma estava “empacada”, distante de Serra, superada por Ciro, perdendo para Heloísa Helena e Aécio, as oposições não viram motivos para se inquietar. Cada pesquisa nova era recebida com alegria, como se decretasse que a “transferência de Lula para Dilma” era balela, um cálculo político mal feito, fruto da onipotência presidencial.

Agora, no entanto, depois da divulgação das primeiras pesquisas feitas em 2010, o panorama mudou. Nos meios políticos, a discussão deixou de ser a respeito de se Lula vai ou não precisar de um plano B e passou a ser sobre quando Dilma assumirá a dianteira.

Essa mudança de cenário provoca reações compreensíveis dentro das oposições, nelas incluída a mídia simpática às suas lideranças e propostas. Como tudo na eleição de 2010, também o recrudescimento do debate, típico do clima de reta final de campanha, está sendo antecipado. Os ataques continuados e não justificados ao Bolsa-Família são um exemplo.

Talvez tenha sido Lula quem puxou a fila da incivilidade na campanha, mas, muito provavelmente, fez isso de caso pensado. Ao polemizar em tom agressivo com as oposições, ele torna mais difícil para elas poupá-lo de suas críticas e concentrar o fogo em Dilma.

Fazendo o oposto do que fazem alguns governantes, que se orgulham de posar como magistrados e preferem se colocar “acima” da disputa eleitoral, Lula sobe no palanque (quem não o faria, sabendo que é aprovado por mais de 80% da população?). Assim, reitera que a oposição tem que alvejá-lo, coisa que ela preferiria não ser obrigada a fazer.

Enquanto Lula dá mostras de estar a cada dia mais tranquilo, as inquietações da oposição fazem com que ela se confunda e emita sinais errados para a opinião pública. Existe exemplo maior que Aécio ser apresentado como vice de Serra a toda hora? Apenas para que ele o desminta? Apenas para que Serra se fragilize, seja percebido como alguém que só tem chance se Aécio for seu vice?

Por:Marcos Coimbra
marcoscoimbra.df@dabr.com.br

OBAMA E A COMUNICAÇÃO DIGITAL



Inventor do 'Obama on-line' diz que redes sociais só funcionam em mão dupla


G1 conversou com Scott Goodstein, que trabalhou na campanha de 2008.
Consultor foi responsável por estratégia de campanha pela Internet.


Gustavo Petró Do G1, em São Paulo


O sucesso de Scott Goodstein ao coordenar a campanha de Barack Obama nas redes sociais nos Estados Unidos chamou a atenção dos políticos brasileiros para as próximas eleições. Embora ele afirme que ainda não tenha acertado trabalhar para nenhum partido, apesar dos rumores de que ele seria contratado do PT, no momento ele estuda como poderá criar uma estratégia on-line para a campanha eleitoral no Brasil.

Na Campus Party 2010, onde foi palestrante, Goodstein defendeu a importância de se trabalhar com pequenos nichos na internet e de modelos gerais de interação em comunidades on-line. Para ele, mais importante do que atingir todos os eleitores é conseguir mobilizar um público específico, fazendo com que ele se mobilize e consiga chamar amigos para criar algo muito maior. “É por meio das redes sociais que os políticos podem se comunicar com seus eleitores, saber o que eles pensam, quais são suas dúvidas e criar uma via de duas mãos”, conta.

Entretanto, Goodstein afirma que, para que os usuários da internet criem informação e possam se organizar para uma mobilização política, o Brasil precisa garantir o acesso à rede a maioria das pessoas. Antes de se apresentar para os campuseiros, Goodstein conversou com o G1 sobre o engajamento político na internet e a importância das mídias sociais para uma campanha política.

Por conta de notícias a seu respeito publicadas no país, o estrategista on-line demonstrou preocupação ao responder as perguntas e quis deixar claro que não trabalha para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, nem para a Casa Branca. “Tudo o que falo é minha opinião política”.


G1 – Na campanha eleitoral norte-americana de 2008, os candidatos que conseguiram se promover e divulgar suas ideias pelas redes sociais?
Goodstein - As redes sociais não foram feitas para se promover. Isso é um grande erro. Os políticos que inundam o Facebook e o Twitter com informações, erram. É preciso conversar com usuários, responder suas dúvidas e saber escutá-los. As pessoas desejam fazer parte de uma via de duas mãos. Eu não entro no Facebook de um político para ler textos de divulgação para a imprensa.

É um erro entrar nessas redes sociais e trabalhar apenas com uma via de comunicação. Na campanha de Obama, respondemos toda pergunta séria enviada por e-mail porque sabíamos que era um voto. Este eleitor tinha uma preocupação, e ele também tinha 70 ou 80 amigos na rede social que também eram eleitores. Então, quando eles recebiam uma resposta sobre a importância de se investir na saúde, por exemplo, eles avisavam seus amigos, porque é assim que uma rede social funciona.



G1- Mas os políticos também conseguiram promover as redes sociais, não?
Goodstein - Usamos ferramentas que não foram criadas exclusivamente para a política. O Facebook já existia e não precisava da nossa ajuda para crescer. Ele tem 65 milhões de americanos cadastrados. São muitas pessoas para manter contato. Se você é um político e deseja falar para uma audiência 30 milhões de pessoas na TV, deverá colocar um anúncio no ar. Com 65 milhões de americanos no Facebook, você desejará engajá-los para algo. Com o Twitter é um pouco diferente. Ele foi uma experiência. Quando começamos, o serviço tinha apenas algumas milhares de pessoas no microblog. Conforme ele cresceu, fomos com ele.

Não sei se ajudamos essas redes. Na política dos EUA, as pessoas querem ser ouvidas, querem publicar suas opiniões, querem se envolver. Um exemplo é o que aconteceu recentemente com a tragédia do Haiti. As pessoas querem se mobilizar.


G1 - Criou-se a imagem de que Obama era um ‘twitteiro’, mas recentemente ele revelou que usou o serviço de microblog pela primeira vez. Como foi criada essa imagem do presidente americano? Este fato não soou mentiroso para ele?

Goodstein - Barack Obama não escreve todos os seus e-mails, não responde perguntas no Facebook e não utiliza o Twitter. Esta é uma história ingênua. No Twitter, que está muito claro que existe uma conta de sua campanha. Há uma conta da Casa Branca e se usarmos uma frase dele, esta frase foi dita por ele, mas não significa que ele a escreveu.
As milhares de pessoas que ficaram chocadas com o fato de Obama não twittar são ingênuas. Eu prefiro pensar que o meu presidente tem coisas mais importantes a fazer do que ser criticado pelo fato de sua equipe estar usando o Twitter ou mandando e-mails sobre um discurso verdadeiro que ele deu dois minutos antes.


G1 - No Brasil, existe certo ceticismo sobre mobilização pela internet. Como você trabalha para tentar quebrar este paradigma?

Goodstein - Eu não concordo com esta afirmação. Eu gosto de pensar na internet como uma ferramenta. Penso na geração dos meus pais, na década de 60 nos Estados Unidos, com os movimentos anti-guerra, com Martin Luther King e com marchas pelas ruas. Vivemos em uma época diferente. Conseguimos mandar uma mensagem dez vezes mais rápido com estas ferramentas. Conseguimos organizar centenas de milhares de voluntários para ir a um determinado lugar com elas. Fizemos um grupo de jovens ir da Califórnia para o estado de Nevada para uma mobilização. O conceito de que estas ferramentas servem apenas para que os jovens assistam a vídeos em casa é um mito. Além disso, não acredito que valha mais um milhão de pessoas marchando nas ruas do que um grupo de 20 jovens que se mobilizam, convocam amigos e conseguem dinheiro para ajudar as vítimas do Haiti.


G1- Este tipo de mobilização on-line funcionaria no Brasil?

Goodstein - Acredito que funciona mundialmente. Se você entrega ferramentas poderosas e gratuitas para as pessoas, é preciso garantir acesso a elas. Torço para que o Brasil consiga resolver este problema de acesso à internet por aqui. Espero que o governo brasileiro trabalhe para isso, pois assim se construirão comunidades, uma maior interação das pessoas e um engajamento público. Milhões podem construir e gerar informações como no Wikipédia. É preciso saber como organizar essas comunidades por meio da web.



G1 - Nos Estados Unidos, você trabalhou na eleição de um candidato que quebrava uma linha de poder. No Brasil, você pode vir a trabalhar para um candidato de sucessão. Como você trabalha com isso?

Goodstein - Eu não estou trabalhando para nenhum partido político brasileiro. Eu sou de Cleveland, no estado de Ohio e passei a minha vida trabalhando para uniões de trabalhadores e partidos trabalhistas nos Estados Unidos. Espero que os partidos trabalhistas ao redor do mundo realizem coisas boas. No Brasil, eles tiveram muito sucesso. Fora isso, tenho conversado com algumas pessoas, mas saberei com quem trabalhar por volta de maio ou junho.