Fabiana Soler é vereadora do PT em Potim (SP). Formada em Comunicação Social pela UNESP de Bauru, é Administradora com extensa experiência na área de Pesquisas de Opinião Pública.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
OBAMA E A COMUNICAÇÃO DIGITAL
Inventor do 'Obama on-line' diz que redes sociais só funcionam em mão dupla
G1 conversou com Scott Goodstein, que trabalhou na campanha de 2008.
Consultor foi responsável por estratégia de campanha pela Internet.
Gustavo Petró Do G1, em São Paulo
O sucesso de Scott Goodstein ao coordenar a campanha de Barack Obama nas redes sociais nos Estados Unidos chamou a atenção dos políticos brasileiros para as próximas eleições. Embora ele afirme que ainda não tenha acertado trabalhar para nenhum partido, apesar dos rumores de que ele seria contratado do PT, no momento ele estuda como poderá criar uma estratégia on-line para a campanha eleitoral no Brasil.
Na Campus Party 2010, onde foi palestrante, Goodstein defendeu a importância de se trabalhar com pequenos nichos na internet e de modelos gerais de interação em comunidades on-line. Para ele, mais importante do que atingir todos os eleitores é conseguir mobilizar um público específico, fazendo com que ele se mobilize e consiga chamar amigos para criar algo muito maior. “É por meio das redes sociais que os políticos podem se comunicar com seus eleitores, saber o que eles pensam, quais são suas dúvidas e criar uma via de duas mãos”, conta.
Entretanto, Goodstein afirma que, para que os usuários da internet criem informação e possam se organizar para uma mobilização política, o Brasil precisa garantir o acesso à rede a maioria das pessoas. Antes de se apresentar para os campuseiros, Goodstein conversou com o G1 sobre o engajamento político na internet e a importância das mídias sociais para uma campanha política.
Por conta de notícias a seu respeito publicadas no país, o estrategista on-line demonstrou preocupação ao responder as perguntas e quis deixar claro que não trabalha para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, nem para a Casa Branca. “Tudo o que falo é minha opinião política”.
G1 – Na campanha eleitoral norte-americana de 2008, os candidatos que conseguiram se promover e divulgar suas ideias pelas redes sociais?
Goodstein - As redes sociais não foram feitas para se promover. Isso é um grande erro. Os políticos que inundam o Facebook e o Twitter com informações, erram. É preciso conversar com usuários, responder suas dúvidas e saber escutá-los. As pessoas desejam fazer parte de uma via de duas mãos. Eu não entro no Facebook de um político para ler textos de divulgação para a imprensa.
É um erro entrar nessas redes sociais e trabalhar apenas com uma via de comunicação. Na campanha de Obama, respondemos toda pergunta séria enviada por e-mail porque sabíamos que era um voto. Este eleitor tinha uma preocupação, e ele também tinha 70 ou 80 amigos na rede social que também eram eleitores. Então, quando eles recebiam uma resposta sobre a importância de se investir na saúde, por exemplo, eles avisavam seus amigos, porque é assim que uma rede social funciona.
G1- Mas os políticos também conseguiram promover as redes sociais, não?
Goodstein - Usamos ferramentas que não foram criadas exclusivamente para a política. O Facebook já existia e não precisava da nossa ajuda para crescer. Ele tem 65 milhões de americanos cadastrados. São muitas pessoas para manter contato. Se você é um político e deseja falar para uma audiência 30 milhões de pessoas na TV, deverá colocar um anúncio no ar. Com 65 milhões de americanos no Facebook, você desejará engajá-los para algo. Com o Twitter é um pouco diferente. Ele foi uma experiência. Quando começamos, o serviço tinha apenas algumas milhares de pessoas no microblog. Conforme ele cresceu, fomos com ele.
Não sei se ajudamos essas redes. Na política dos EUA, as pessoas querem ser ouvidas, querem publicar suas opiniões, querem se envolver. Um exemplo é o que aconteceu recentemente com a tragédia do Haiti. As pessoas querem se mobilizar.
G1 - Criou-se a imagem de que Obama era um ‘twitteiro’, mas recentemente ele revelou que usou o serviço de microblog pela primeira vez. Como foi criada essa imagem do presidente americano? Este fato não soou mentiroso para ele?
Goodstein - Barack Obama não escreve todos os seus e-mails, não responde perguntas no Facebook e não utiliza o Twitter. Esta é uma história ingênua. No Twitter, que está muito claro que existe uma conta de sua campanha. Há uma conta da Casa Branca e se usarmos uma frase dele, esta frase foi dita por ele, mas não significa que ele a escreveu.
As milhares de pessoas que ficaram chocadas com o fato de Obama não twittar são ingênuas. Eu prefiro pensar que o meu presidente tem coisas mais importantes a fazer do que ser criticado pelo fato de sua equipe estar usando o Twitter ou mandando e-mails sobre um discurso verdadeiro que ele deu dois minutos antes.
G1 - No Brasil, existe certo ceticismo sobre mobilização pela internet. Como você trabalha para tentar quebrar este paradigma?
Goodstein - Eu não concordo com esta afirmação. Eu gosto de pensar na internet como uma ferramenta. Penso na geração dos meus pais, na década de 60 nos Estados Unidos, com os movimentos anti-guerra, com Martin Luther King e com marchas pelas ruas. Vivemos em uma época diferente. Conseguimos mandar uma mensagem dez vezes mais rápido com estas ferramentas. Conseguimos organizar centenas de milhares de voluntários para ir a um determinado lugar com elas. Fizemos um grupo de jovens ir da Califórnia para o estado de Nevada para uma mobilização. O conceito de que estas ferramentas servem apenas para que os jovens assistam a vídeos em casa é um mito. Além disso, não acredito que valha mais um milhão de pessoas marchando nas ruas do que um grupo de 20 jovens que se mobilizam, convocam amigos e conseguem dinheiro para ajudar as vítimas do Haiti.
G1- Este tipo de mobilização on-line funcionaria no Brasil?
Goodstein - Acredito que funciona mundialmente. Se você entrega ferramentas poderosas e gratuitas para as pessoas, é preciso garantir acesso a elas. Torço para que o Brasil consiga resolver este problema de acesso à internet por aqui. Espero que o governo brasileiro trabalhe para isso, pois assim se construirão comunidades, uma maior interação das pessoas e um engajamento público. Milhões podem construir e gerar informações como no Wikipédia. É preciso saber como organizar essas comunidades por meio da web.
G1 - Nos Estados Unidos, você trabalhou na eleição de um candidato que quebrava uma linha de poder. No Brasil, você pode vir a trabalhar para um candidato de sucessão. Como você trabalha com isso?
Goodstein - Eu não estou trabalhando para nenhum partido político brasileiro. Eu sou de Cleveland, no estado de Ohio e passei a minha vida trabalhando para uniões de trabalhadores e partidos trabalhistas nos Estados Unidos. Espero que os partidos trabalhistas ao redor do mundo realizem coisas boas. No Brasil, eles tiveram muito sucesso. Fora isso, tenho conversado com algumas pessoas, mas saberei com quem trabalhar por volta de maio ou junho.
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