Por que ninguém quer ser vice de Serra?
Messias Pontes
A pouco mais de uma semana para a realização de sua convenção nacional, o PSDB ainda não tem um nome para compor a chapa majoritária a ser encabeçada pelo ex-governador paulista José Serra para concorrer a Presidência da República. A confusão no ninho tucano e de seus aliados é tamanha que está tirando o sono de todos eles, notadamente do Coisa Ruim, que insiste na mudança de rumo comportamental de Serra, já que este, com medo de perder mais eleitores, deixou de bater no presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a ordem é bater com violência e Serra já começou. Isto mostra ao eleitor que ele está agindo como biruta de aeroporto, indo ao sabor dos ventos.
No que pese toda a pressão midiática e de todas as lideranças liberal-conservadoras, o ex-governador mineiro Aécio Neves já bateu o martelo e disse que nada o fará aceitar a vice de Serra. “Se não sirvo para ser o candidato a presidente, também não sirvo para ser vice”, desabafou o neto de Tancredo Neves. O senador Tasso Jereissati, igualmente, descartou de vez essa possibilidade. Portanto, chapa pura está fora de cogitação.
O ideal seria uma composição com o DEMO, mas o nome preferido está fora de combate, no caso José Roberto Arruda, apanhado com a mão na botija, sendo forçado a renunciar ao governo do Distrito Federal. Sobraria para a senadora Kátia Abreu, do DEMO do Tocantins, mas esta, pela sua truculência, é odiada pelos movimentos sociais de todo o País e inviabilizaria um possível apoio dos eleitores de Marina Silva num hipotético segundo turno. Outro demo fora do baralho é o seu presidente nacional, deputado federal Rodrigo Maia, que ainda não esclareceu a denúncia de seu envolvimento com o mensalão de Roberto Arruda.
Outra opção seria o senador carioca Francisco Dorneles, do PP. Contudo o seu partido está dividido entre apoiar Serra ou a petista Dilma Rousseff. Ademais, Dorneles queimou-se completamente ao tentar mudar o texto do projeto de iniciativa popular Ficha Limpa, para beneficiar os corruptos, em especial o deputado Paulo Maluf. No PPS, o seu presidente Roberto Freire não é sequer cogitado, até porque falta-lhe credibilidade e não tem voto sequer para se eleger síndico do seu condomínio residencial. Já o ex-presidente Itamar Franco já avisou que quer mesmo é disputar o Senado.
Na realidade, todos os que estão rejeitando a indicação para vice alegando ser mais importantes para os seus estados como senador, têm a certeza da derrota, já que a tendência verificada há mais de um ano é de queda de Serra e de subida de Dilma revelada pelos institutos de pesquisa de opinião. A expectativa de vitória da candidata do presidente Lula ainda no primeiro turno tem desestimulado as principais lideranças da direita conservadora a aceitar a vice de Serra.
O crescimento histórico da economia, principalmente num momento de crise mundial do capitalismo, é outro fator a desestimular alguém a aceitar a vice de Serra. Segundo estudo revelado pelo BNDES semana passada, no período de 2010 a 2013 a indústria vai investir a colossal soma de R$ 1,324 trilhão, valor 55% superior ao que aplicou de 2005 a 2008. Trata-se do maior investimento destinado à produção dos últimos 35 anos.Por outro lado, setores democráticos que alimentavam alguma ilusão com relação ao ex-governador paulista estão se desiludindo e até se decepcionando com as posições retrógradas do pré-candidato tucano. É que este já explicitou a sua posição contrária à política de integração regional e sua preferência pelo retorno do alinhamento automático com os Estados Unidos, a exemplo do que fez o Coisa Ruim nos seus oito anos de entreguismo (1995 a 2002).
Também não se viu por parte de José Serra nenhuma posição contrária ao criminoso bombardeio ao comboio de navios, em águas internacionais, por parte do Estado terrorista de Israel, quando foram mortos, há dois dias, dez pessoas e dezenas de outras ficaram feridas. O comboio levava alimentos para os famintos da Faixa de Gaza, na Palestina. O criminoso bloqueio de Israel à Palestina, igualmente, parece ter o apoio de Serra.A indefinição dos coordenadores regionais devido a uma acirrada disputa entre os três partidos que sustentam a candidatura da direita conservadora é outro fator que pesa contra Serra. E o fato de ninguém querer aceitar a vice já está virando chacota em toda parte: “você quer ser o vice do Serra?”, ironiza-se nas ruas, nos bares e nos botequins. Parece até que o ninho tucano está infestado de pichilinga.
Por que no Ceará todos querem ser candidato a vice na chapa do governador de Cid Gomes (PSB)? No PT há inclusive uma acirrada disputa interna pela indicação. Todos querem porque sabem que a reeleição mais tranqüila no Brasil é justamente a de Cid Gomes. O resto é desculpa esfarrapada de quem só quer entrar na disputa se for pra ganhar. E com a economia bombando como está, então nem pensar.
Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE
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